Por Luiz
Gonzaga Fonseca Mota (*)
Era o ano de 1968. Estava cursando a Escola de Pós-Graduação em
Economia da FGV (Fundação Getúlio Vargas), no Rio de Janeiro, no bairro de
Botafogo. Casado há dois anos e já tendo um filho, morávamos num pequeno
apartamento em Copacabana. Vida dura, mas feliz. As aulas eram de 2ª a 6ª
feira. Os alunos almoçavam no “bandejão”. Ia e voltava de ônibus, o que era
agradável. Completei dois anos de casado no dia 3 de setembro do referido ano.
Nossa vida era simples, pois além da escassez de recursos financeiros,
dedicava-me de forma significativa aos estudos. Pois bem, no dia 3 de setembro,
após as aulas, voltando para casa, resolvi passar numa floricultura, perto de
onde morávamos, disposto a comprar um modesto buquê de flores para presentear
minha mulher Mirian. O dia tinha sido muito puxado. O professor Mario Henrique
Simonsen, passou 3 horas dando uma estafante aula de matemática sobre “equações
em diferenças finitas”. Apesar da exposição ser difícil e complicada, a
preleção do mestre foi fantástica e brilhante. Não obstante o cansaço físico e
mental, fui à floricultura. A dona da loja, uma senhora muito educada,
imediatamente preparou o buquê e me deu um cartão para eu fazer o oferecimento.
Olhei para o lado e percebi a presença do grande poeta brasileiro, Carlos
Drummond de Andrade. Fiquei nervoso e não consegui escrever uma palavra. A
senhora, de forma gentil, amiga de Drummond, perguntou ao poeta se ele poderia
escrever a dedicatória para mim. Atencioso, redigiu um poema de sua autoria com
4 versos: “A gente sempre se amando/ nem vê
o tempo passar./ O amor vai nos ensinando/ que é sempre tempo de amar”. Agradeci perplexo e emocionado. Verdade, admirável
poeta, penso hoje, pois breve faremos 54 anos de casados, temos 4 filhos, 9
netos e 1 bisneto. Assim é a vida.
(*) Economista. Professor aposentado da UFC. Ex-governador do
Ceará.
Fonte:
Diário do Nordeste, Ideias. 12/6/2020.
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