domingo, 7 de fevereiro de 2021

A TROCA DA GUARDA DO BANCO

           Fala-se que, nos idos dos anos cinquenta ou sessenta, um tenente recebeu de um capitão a incumbência de providenciar a pintura de um banco de madeira na sede de um quartel do exército, conforme ordem de serviço do coronel que comandava aquela guarnição, por meio de uma ordem de serviço.

A ordem de serviço, baixada em Boletim Interno (BI), e rodada em mimeógrafo, dispunha que o banco, localizado no pátio interno, tinha de ser pintado na cor verde. À época, vale lembrar, que não existia tinta de secagem rápida, e uma pintura poderia levar de dois a três dias, para ficar inteiramente seca.

Para evitar colocar uma tabuleta, com os dizeres: “TINTA FRESCA”, o zeloso tenente, que estava como o oficial do dia, no início de um final de semana, determinou a instalação de um sentinela, que deveria vigiar o banco, impedindo que as pessoas nele viessem a se sentar. Assim foi feito nos dias subsequentes: a cada doze horas, fazia-se a substituição da guarda de plantão

Ocorre que esse tenente, na semana seguinte, foi transferido para servir em outro estado, tendo deixado o quartel em questão.

Passados vinte anos, o tenente prosseguiu na sua carreira militar galgando as promoções a capitão, major e coronel, atuando em diferentes locais, incluindo guarnição de fronteira, sendo designado, finalmente, para exercer o comando do antigo quartel em que servira, no começo de seu oficialato.

Como novo comandante, assim que assumiu o comando dessa unidade militar, o coronel achou estranho que, durante as 24 horas, havia sempre um soldado armado, com revezamento em certas horas do dia, de modo a deixar sempre um recruta ali, de prontidão, defronte ao dito banco.

Como era um recinto intramuros e sem qualquer sentido estratégico ou de segurança do edifício, o coronel chamou um veterano sargento, que ali servia há muito tempo, e perguntou:

– Qual é a razão daquela guarda permanente postada em frente ao banco?

Ao que o seu subordinado respondeu:

– Não sei exatamente, senhor! Sempre se faz essa troca de guarda, senhor!

– Há quanto tempo isso vem ocorrendo, sargento? – Indagou o oficial.

– Há, pelo menos, uns vinte anos, senhor! Desde quando eu cheguei aqui, há quase vinte anos, para servir nessa cidade, esse procedimento já estava em curso.

Aí, então, o coronel lembrou-se da medida que adotara, poucos dias antes de sua saída desse quartel. Como decorrência de sua antiga ordem, não cancelada por outra contra-ordem, por duas décadas, diariamente, fez-se a troca da guarda de um banco.

Marcelo Gurgel Carlos da Silva

Ex-Presidente da Sobrames-Ceará

* Publicado In: SILVA, M. G. C. da (Org.). Meia-volta, volver! Médicos contam causos da caserna. Fortaleza: Expressão, 2014. 112p. p.69-71.

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