sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

Crônica: “Chuva de granito” ... e outros causos

Chuva de granito

Deixou de fazer parte do anedotário e, de vera, desabou do céu, em pleno sertão do Ceará, a tal "chuva que cai em forma de grãos de gelo; chuva de pedra", que a todos admirou, assustou. Foi de madrugada. Meia hora de precipitação estranha.

A pancadaria dos "tijôlo caídos lá de riba na copa dos pé de pau" acordou a famiarança de seu Ciço Cololó, sertanejo gentil, mouco das oiças. Ele mesmo nada ouviu, mas pressentiu algo baruiento. Atendendo ao chamado de pavor da mulher, correu em busca do alpendre de casa. Candeeiro alumiando o terreiro e lá estavam "os rebôlo medonho. Uma péda daquelas, na cabeça dum menino, era golpe grande". Ciço não pegou na pedra, por medo de pecar.

- Os vizim tão dizendo que foi chuva de granizo - informou a mulher.

Cololó guardou o nome na cabeça, do jeito que ouviu, no rumo. Na manhã seguinte à experiência de fim de mundo naquele fim de mundo, o pau que rolava era "a chuva do papôco da madrugada". Emissora de televisão da capital chega ao local. Repórter pergunta ao bondoso matuto sobre o fenômeno único no estado, especialmente naquele verão. Cololó, com um "xêxo" de pedra - que enfeitava a mesinha da sala de casa na mão...

- Taqui, dotô. Pense numa chuva de granito! Só sobrou esse, o resto se esfarinhou todo!

Crise é oportunidade!

Empresários amigos - dos ramos de chip de rapadura pra celular, caneta azul só pro pessoal do Mobral, máquina de lavar ânus de cobra de duas cabeças, elixir de batata doce e de gás natural pra carrapato - estão precisando para admissão imediata dos seguintes profissionais - levar currículo:

- furador de fila do INPS

- inventor de coisa ruim

- bandeirinha de futebol de botão

- soldador de fundo de balde

- alisador de cabelo pixaim com martelo

- psicólogo de peru de roda 

Enquanto chega o Dicionário da Fala Cearense...

Apostá duzentim - Apostar duzentos reais

Cair na besteira de... - Cometer tamanha infantilidade

Da mêi dia pra tarde - Do meio dia para a tarde, a partir das 12 horas

Demora mais que parto de burro - Só falta não acabar mais

É muito tabaco esse... - É de mui péssima qualidade, procedência, categoria

Estar numa roedeira medonha por alguém - Apaixonada(o) toda(o)

Fazer o nome do pai - Benzer-se com o Pelo Sinal

Impinimar - Insultar, fazer hora, tirar a terreiro

Mêa môca - Um tanto surda

Munduru - Ruma de coisas, de gente

Passar por baixo da mesa - Ficar sem comer (o almoço, a janta...)

Pedir pra cagar e sair - Desistir, às vezes covardemente

Pegue na minha e balance! - Toque cinco, aperta esses ossos (aperto de mão)

Piula nenhuma! - Coisa nenhuma, porra nenhuma!

Pó patapá taio - Pó para tapar talho

Tiú em tambor - Bicho pra feder muito

Uma coisinha véa de nada - Algo minúsculo

Fonte: O POVO, de 29/05/2020. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.

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