quarta-feira, 22 de março de 2023

O BANCO CENTRAL E OS JUROS NO BRASIL

Por Henrique Soárez (*)

Em um mercado competitivo, nem compradores nem vendedores têm o poder de determinar os preços: eles serão definidos pela relação entre oferta e demanda. Em uma grande economia como a brasileira os principais preços são o câmbio e os juros. Estes dois preços não são independentes pois o crescimento esperado da economia os vincula entre si. Se esperamos que nossa economia irá crescer mais que a economia global então o real irá apreciar, se nossa economia cresce mais que a dívida pública então o juro cai (por que o governo passa a demandar menos reais para se financiar). O Tesouro Nacional está longe de ser um comprador qualquer de crédito, mas isso não afasta a hipótese da competitividade do mercado. Já o Banco Central tem o poder de interferir nos preços do crédito e faz isso com o objetivo de preservar a estabilidade da moeda.

As expectativas também afetam os preços. A partir do início do governo Temer o mercado acreditou que dias melhores viriam: saímos de juros anuais de 14,15% até inacreditáveis 2,25%. Esta expectativa durou até o início da pandemia. Os gastos públicos impostos pelo combate ao vírus causaram expansão monetária e surtos inflacionários em todo o planeta. No nosso país os juros subiram rapidamente buscando coibir a inflação, mas permaneceram na estratosfera para lidar com a indisciplina fiscal que costuma anteceder as eleições federais.

O governo Lula 3 não demonstrou compromisso algum com o equilíbrio fiscal e assim impediu a queda dos juros. Para o Banco Central, a necessidade de financiar o Estado (à luz da expectativa de descontrole) passou a representar a principal ameaça à estabilidade da moeda. O presidente foge da discussão preferindo minar a independência do Banco Central e assim retarda ainda mais a queda dos juros (são as expectativas, lembram?).

Poderíamos estar caminhando para integrar a OCDE, mas corremos o risco de retroagir nas regras mais básicas de administração macroeconômica. Os rentistas se abrigam no CDI, as empresas entram em recuperação judicial, e a população sofre nas garras da inflação e do desemprego.

(*) Engenheiro eletricista, diretor do Colégio 7 de Setembro e da Uni7.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 25/02/23. Opinião, p.20.

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