sábado, 9 de novembro de 2024

A VIDA COM PARKINSON I

Por Lucas Vieira, Rafael Santana, Camila Pontes e Luciana Pimenta, de O Povo (*)

Em um determinado dia, um jovem resolveu visitar seu pai em São Paulo. Ao entrar no avião, sentou-se ao lado de uma mulher. Logo, começou a tremer de maneira intensa, causando desconforto na passageira vizinha, que expressou seu incômodo. À medida que o rapaz continuava tremendo, sua reclamação ganhou a atenção de todos que estavam ali presentes.

Assim, antes da decolagem, todos na aeronave estavam cientes da situação e se uniram à mulher em sua manifestação para que fizessem algo com aquela circunstância que causava tanto desagrado. O jovem, então, foi retirado do voo e submetido a uma revista pela Polícia Federal no aeroporto, para verificar se aquele rapaz portava algum tipo de substância ilícita.

O relato acima dá conta da experiência vivenciado pelo então designer de mídia e colunista de games Bruno Sofia, após ter sido diagnosticado com a Doença de Parkinson (DP), quando tinha apenas 27 anos. Na época, Sofia trabalhava no setor de marketing O POVO. Com o diagnóstico, teve que se adaptar às suas atividades no trabalho para lidar com os sintomas iniciais do acometimento.

A história dele está no documentário Os dias de Sofia, em cartaz no OP+ a partir desta segunda-feira, 4 de outubro.

O Parkinson, segundo o médico neurocirurgião Caio Sander, é uma doença neurológica progressiva, sem cura, e idiopática, isto é, sem uma causa definida, causada pela degeneração do sistema dopaminérgico cerebral, ocasionando alterações motores e não-motores.

Com a falta dessas células nessa área da mente, isso acaba interferindo na produção de dopamina, hormônio responsável pela sensação de prazer e humor no ser humano. Esse neurotransmissor também é responsável pelo controle motor, bem como os movimentos estomacais e esofágicos”, explica.

Segundo o especialista, a causa exata do DP ainda é desconhecida, mas já se sabe que existem fatores genéticos e ambientais que podem contribuir para o surgimento da doença. “A doença acomete mais frequentemente pessoas com idade acima de 60 anos, com predomínio do sexo masculino. Cerca de 10% dos casos surgem com idade inferior a 50 anos”, afirma.

Segundo dados informados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se haver cerca de 8,5 milhões de pessoas no mundo com a Doença de Parkinson. No Brasil, o número de casos da patologia deve chegar a 200 mil habitantes. Esses dados representam um aumento dos casos da doença nos últimos 25 anos.

A história de Bruno faz parte de uma pequena parcela da população mundial diagnosticada com a DP antes dos 60 anos, o que mostra que a atenção com o problema não deve ser direcionada somente aos idosos, mas também as pessoas mais jovens.

A experiência vivida pelo jovem no avião o marcou profundamente, causando até mesmo o desenvolvimento de crise de ansiedade e pânico. Para o médico Caio Sander, atualmente existe um grande aumento no diagnóstico com idade mais precoce, mas ainda não se sabe exatamente o motivo por trás dessa realidade.

Sabemos que existem fatores genéticos e ambientais que provavelmente influenciam no surgimento da doença, como algumas mutações genéticas, o consumo de álcool, sedentarismo e tabagismo. Outro motivo também se deve ao diagnóstico mais precoce da doença através do melhor acesso a médicos e a exames complementares como Ressonância Magnética e ao PET”, esclarece.

Bruno Sofia relembra que o primeiro sintoma que apresentou da DP foi um tremor que não era comum a sua idade. Esse tremor, que ele chama de tremor essencial, evoluía de maneira que passavam os dias, principalmente em situações em que ele estava nervoso. “É comum que o tremor essencial não evolua, mas se mantenha na pessoa. Entretanto, no meu caso, estava aumentando”, descreve.

O neurologista Caio Sander aponta como sintomas motores os tremores, a rigidez, a lentificação dos movimentos, a instabilidade postural e os distúrbios da marcha. “A doença também provoca sintomas não motores, como alteração do sono, perda do olfato e problemas cognitivos”, conclui.

(*) Jornalistas de O Povo.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 3/11/2024. Ciência & Saúde. p. 18-19.

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