Por Valdester
Cavalcante Pinto Jr. (*)
Avanços em tecnologia, incluindo
dispositivos de suporte circulatório extracorpóreo - ECMO, levaram a modos
inovadores de sustentar a vida de crianças com doenças historicamente com
desfechos fatais. À medida que são agregados tais progressos, impõe-se entender
sobre o prognóstico e as potenciais morbidades dos procedimentos, o que conduz
a tensões éticas atinentes à alocação e emprego das tecnologias. Nessas
circunstâncias, tomam-se decisões médicas em condições urgentes e de alto
risco.
Em princípio, a comunidade deve garantir o
bem comum por meio da proteção da vida e da saúde de cada pessoa, reconhecendo
sua autonomia, após exame de opções eficazes, destinando recursos adequados e
privilegiando as situações de maior gravidade.
Crianças, mesmo sem autoridade de decidir,
quando possível, devem se beneficiar de saber o que vai acontecer, ter uma
palavra a dizer e ser ouvidas (autonomia). Se muito pequenas ou em situação
crítica, a consideração de autonomia é inapropriada, transferindo-se à família,
com auxílio de informações médicas, a decisão de aplicar ou interromper
procedimentos. Aqui ocorre de servir ao bem-estar das crianças, não de
preservar a autonomia dos pais.
Em todo processo, é exigido que cada ação
seja empregada à demanda de bons resultados, com base nos recursos disponíveis,
incluindo a experiência profissional - que contribua para o bem-estar
(beneficência) com o menor dano possível (não maleficência). Soma-se a esses
três princípios a ideia de justiça, no âmbito da qual as oportunidades de
tratamento sejam igualmente disponíveis para todos, na medida da necessidade.
Ainda que assistidos por esses princípios,
já bem fundamentados e norteadores da nossa prática, a decisão do não uso ou da
interrupção de uma tecnologia enseja sofrimento em quem define.
O ideal reside em compartilhar as
informações com todos, aqui insertas, principalmente, as famílias, à proporção
do alcance de cada qual, com vistas a preservar os interesses de longo prazo da
criança sobre seus proveitos de curto tempo. Assim entendemos a maneira de
prestar cuidados com excelência.
(*) Médico
cirurgião cardiovascular pediátrico.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 30/10/2024. Opinião. p.22.
Nenhum comentário:
Postar um comentário