Por Carlos Roberto Martins
Rodrigues Sobrinho (Doutor Cabeto) (*)
Segundo Antônio Carlos Jobim, maestro, um
dos maiores nomes da música brasileira, "viver em Nova Iorque é bom, mas é
uma merda. Já viver no Rio de Janeiro é uma merda, mas é bom".
Nos últimos dias, talvez semanas, tenho
escutado de pessoas até certo ponto próximas, que o nosso velho Ceará é um caso
de sucesso. A justificativa, segundo os mesmos, vem da comprovação do
crescimento diferenciado do Ceará em relação aos outros estados do Nordeste.
Tal afirmação, usa como exemplo o aumento do PIB, que se aproxima do nosso
rival mais próximo, o estado de Pernambuco. Somam-se a esses dados os possíveis
impactos da ampliação de infraestrutura e o processo de industrialização das
últimas décadas. Em geral, atribuem a esses indicadores de sucesso alcançado ao
legado da responsabilidade fiscal instituída desde a década de oitenta, de
forma mais eficiente.
Cabe-nos, no entanto, analisar alguns fatos
que merecem uma observação mais apurada, especialmente os relacionados às
questões sociais.
Assim, é mister, independente das vertentes
ideológicas, entender o dilema entre o paradoxo do o porque de "tantos
progressos" e a incapacidade de resolver um sem número de problemas, como
o acesso e a qualidade da saúde, a qualidade da educação, a redução da miséria
e da pobreza e a crescente marginalização nas grandes cidades, os assentamentos
precários, a baixa cobertura de saneamento e a crise na segurança pública. E,
principalmente, a falta de equidade e a desigualdade, que, provavelmente, são
as causas de todo o insucesso.
Nesse aspecto, portanto, nós não fomos tão
eficientes. Fazendo uma analogia, o dono da empresa viu seu faturamento
aumentar, mas não percebeu que o seu funcionário empobreceu e adoeceu.
Talvez isso explique as sucessivas crises
dos modelos atuais, que não conseguem reverter a realidade perversa da maioria
da nossa sociedade. Em contrário, agravam-se, diariamente, os nossos conflitos.
No entanto, não se trata de uma visão
pessimista. Trata-se de uma reflexão. É, talvez nós não sejamos tão bons.
Talvez sejamos no futuro se entendermos, agora, as necessidades das pessoas.
Nem tampouco, somos tão ruins. Apenas não somos o que dizemos, e a população
sabe disso!
Afinal, o Ceará é uma M… mas é bom?
Tudo depende do ângulo de análise.
Sugerimos, somente, olhar pelo lado de quem precisa, das famílias e da nossa
sociedade.
(*) Médico. Professor da UFC.
Ex-Secretário Estadual de Saúde do Ceará.
Fonte:
Publicado In: O Povo, de 5/10/2024.
Opinião. p.19.
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