quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

CID E SEU PRONTUÁRIO

João Brainer Clares de Andrade (*)

O Ceará passou quase 10 anos de jejum até ter um novo hospital público estadual
A saúde cearense ganhou corpo, pegou carona na megalomania positiva do governador Cid Gomes e sua equipe. Talvez a vaidade que lhe é própria, aliada a um bom senso e a bom julgamento político, tenha-lhe feito impulsionar área esquecida nos últimos governos. O Ceará passou quase 10 anos de jejum até ter um novo hospital público estadual. Quebrado o jejum, Cid foi responsável pela construção de três novos hospitais no interior do estado, na tentativa de não tardar o atendimento e acalmar os leitos da capital. No entanto, a baixa capacidade de ouvir estagnou, por exemplo, um movimento popular autêntico, tecnicamente bem embasado, da Universidade Estadual do Ceará, que tentou atrair para seu campus o prometido Hospital Metropolitano, que aguarda até hoje autorização para ser construído. Se fosse nas terras do Itaperi, certamente já estaria sendo útil à população do estado.
As policlínicas foram fruto da incontestável falta de especialistas para drenar a demanda da atenção básica, evitando as esperas de meses. Apesar do modelo de contração dos profissionais não oferecer estabilidade, e oferecer baixos salários, as policlínicas dão vazão a um dos principais obstáculos dos postos de saúde; mas ainda falta integração, contra-referência, suporte hospitalar e descentralização.
As UPAs, pegando carona em um modelo de atenção em urgências e emergências do Governo Federal, já têm mais de 2 milhões de atendimentos, poupando unidades complexas de receberem pacientes com agravos simples. O grande problema, no entanto, é o ímpeto pelo número de atendimentos, retirando da responsabilidade da atenção básica boa parte do perfil de atendimento. Além disso, não houve expansão suficiente do Samu e de leitos hospitalares, tidos como indispensáveis a boa parte dos que precisam das UPAs.
Por fim, de concreto no prontuário do governador, constam as idas ao Hospital Geral de Fortaleza, aclamando-o como a maior e mais complexa unidade da rede. No entanto, ao que parece, faz-se vista grossa às dimensões e necessidades do hospital, dilapidando orçamentos, coibindo expansões, tangendo obras a passos pétreos; em nome de um banho de loja que, ainda assim, não aparece nos noticiários da tarde. De herança, é que o próximo governador ouça, veja e sinta melhor; que se inspire nos bons sinais vitais, que tema as efemeridades; que bem evolua, conduza e prescreva as conquistas de Cid.
(*) Médico residente de Neurologia – Hospital Geral de Fortaleza.
Fonte: Publicado In: O Povo, Opinião, de 18/12/2014. p.11.

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