quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

O BRASIL ANEDÓTICO LXVI


HONESTIDADE DE MINISTRO
J.M. de Macedo - "Ano Biográfico", vol. II, pág. 83.
Era José Bernardino Batista Pereira de Almeida Sodré ministro da Fazenda, em 1828, quando o seu colega da pasta da Guerra lhe oficiou, pedindo o pagamento das despesas de transporte, e outras, de alguns operários que o Imperador mandara engajar na Alemanha. Recusado esse pagamento, mandou Pedro I chamar José Bernardino, interpelando-o.
- Senhor, - respondeu o ministro, - no orçamento que vigora não tenho verba que autorize essa despesa; ela é, portanto, ilegal, e eu não a posso ordenar.
- Mandei engajar esses homens, - tornou o Imperador, com energia; - quero que as despesas sejam pagas.
- E se-lo-ão, Senhor; pois que Vossa Majestade o quer.
Dias depois, indagado pelo monarca sobre o cumprimento da sua ordem, o ministro informou:
- Em face da lei, o Tesouro Nacional não podia pagar a esses engajados; a ordem de Vossa Majestade tinha, porém, de ser cumprida.
- E então?
- Paguei-os de meu bolso particular!

COTEGIPE E A PRINCESA ISABEL
A. J. de Araújo Pinho - "O Barão de Cotegipe no Rio da Prata", pág. 85.
O Barão de Cotegipe, cujas previsões políticas lhe deram a fama póstuma de profeta, foi, talvez, a inteligência mais aguda do Segundo Império. Contrário à emancipação dos escravos pelo abalo econômico que essa medida acarretaria, opôs-se quanto pôde à sua execução, observando sempre à Princesa Regente, quando ministro, os riscos de uma providência radical. Feita a abolição em 1888, encontrou-se um dia a Princesa com o velho titular, e interpelou-o, feliz:
- Então, sr. Cotegipe?... A abolição se fez com flores e festas... Ganhei ou não a partida?
O Barão fitou-a, com os seus olhos miúdos e inteligentes.
- É verdade, - confessou. E com tristeza:
- Vossa Alteza ganhou a partida, mas perdeu o trono!...
Um ano depois, proclamava-se a República.

O GRITO DE PAES DE ANDRADE
Manuel de Carvalho Paes de Andrade, que havia de ser, depois, a alma da Confederação do Equador, da qual foi o primeiro e Presidente, exercia já uma influência poderosa em Pernambuco quando ali se cogitou do movimento de 1817, sob o patrocínio de Antônio Carlos e do governador José Luiz de Mendonça. O objetivo desse movimento era, porém, apenas, pedir a D. João VI uma Constituição para o Brasil. Paes de Andrade já se não satisfazia, no entanto, nesse tempo, com isso.
- Não basta! - declarou, ao ouvir a proposta dos outros. - República e só República!
E entre o espanto dos que o escutavam:
- Morra para sempre a tirania real!...

VOZES "PARLAMENTARES"
J.M. de Macedo - "Ano Biográfico", vol. II, pág. 151.
Em 1850, a enfrentar sozinho a Câmara inteira, Sousa Franco, que ainda não era visconde e falava, apesar de doente, várias vezes por dia, foi atacado da tribuna pelo deputado Aprígio, que procurava fazer espírito com a "unidade oposicionista". A certa altura desse discurso um espectador interrompeu o orador, arremedando o latir de um cachorro. O presidente fez soar a campainha, protestando contra o insulto.
- Sr. presidente, - reatou Aprígio, - foi um aparte do sr. Sousa Franco.
- É engano de V. Excia. - retrucou, prontamente, este.
E revidando o golpe:
- Foi o eco de sua voz.
Fonte: Humberto de Campos. O Brasil Anedótico (1927).

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