segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

LER OU NÃO LER


Pedro Henrique Saraiva Leão (*)
Em 1988, a famosa casa Sotheby de Nova York leiloou a biblioteca (3 mil livros) do duque de Windsor, rei Eduardo VIII da Inglaterra, colecionados até sua abdicação em 1936. Falecido em 1972, o acervo foi mantido pela duquesa Wallis Warfield Simpson, por quem desistira da família e do trono, mas nunca dos livros. Morrendo a duquesa (1986) a coleção foi comprada pelo milionário Mohamed al – Fayed, pai do namorado da lady Diana. Ficara comprovado aquele amor e a transcendência atemporal dos livros.
Segundo o nova-iorquino Harold Bloom, Homero, Dante, Cervantes e Shakespeare são as colunas mestras da literatura. Acrescentaríamos a Bíblia e Os Lusíadas, de Camões. Bloom publicou dois abrangentes inventários literários: O Cânone Ocidental e O Gênio (editora Objetiva, RJ, 1994, 2003), embora com algumas omissões (Machado de Assis) sem prejuízo destes títulos. Em 10/11/2007 neste jornal lembramos A Cidade e as Serras, de Eça de Queiroz (1901), onde Jacinto de Thormes sentenciou ao amigo Zé Fernandes: “há que ler...”. Isso há 113 anos, nesse livro já clássico cuja mensagem alcança os nossos dias.
Creio terem sido livros o que inicialmente vi ao nascer no quarto de meus pais. Bibliômanos, ela professora primária, ele advogado e inspetor de ensino, cultivavam extensas bibliotecas. Meu livro inaugural de ficção, foi Kim, do inglês Rudyard Kipling (1865-1936), Nobel de Literatura em (1907). Lia também João Bolinha, Gibi, Guri, X-9, Tarzan. Ainda recordo Aramis, Athos, Porthus e D’Artangan, mosqueteiros de Alexandre Dumas. E nunca me esqueceram O Tesouro da Juventude, verdadeira universidade em 16 volumes, entre eles O Livro dos Porquês! Novas estantes foram adquiridas para saciar crescente bibliomania, termo criado por Gustave Flaubert, ao chegar Crestomatia do gaúcho Radagasio Taborda – realmente um “estudo das coisas úteis”, em grego.
Nela está a comovente “História de um cão” (Veludo) de Luiz Guimarães. Chegara também a Antologia Nacional, de Fausto Barreto e Carlos de Laete. Minha casa era um grande sertão com várias veredas, onde Guimarães Rosa pastoreava Os Maias, Dom Casmurro, Iracema, e outras Aves de Arribação. Ali estavam igualmente dois Josués Montello e Guimarães (Tambores Silenciosos), Bandeira, algum Drummond, Autran Dourado e tantíssimos outros. Todos revisitados nos compêndios de Alceu Amoroso Lima (1957), nos 5 volumes de Silvio Romero (1960), do médico Afrânio Coutinho (1986), como naqueles do cearense José Aderaldo Castelo (1999). Vale conferir a Antologia de Antologias, Musa Editora, SP. 1996, e As obras primas que poucos leram, Ed. Record, 2001. Completíssimos são: Benét’s Reader’s Encyclopedia (1996) e Merriam – Websler’s Encyclopedia of Literature (1959).
Obra por igual reveladora é Uma História da Literatura, do Anglo-Argentino Alberto Manguel (1996), da qual nos ofertou um exemplar quando aqui veio lançá-la em 9/1999. Para os aposentados preencherem o tempo restante, sugerimos os 24 volumes da Encyclopedia Britannica, com os 48 Great Books (1952). Como desafio, indicamos Ulysses e Finnegans Wake, a/c James Joyce, ou nas traduções de Antonio Houaiss, Ed. Civilização Brasileira, 1966, ou Donald Schuler, em 5 volumes, Editora Ateliê, SP, 1999. No intervalo destas leituras, ao invés do Domingão do Faustão, que tal “bestsellers” de Sidney Sheldon, Ken Follet? Finalmente uma boa noite de sono para lermos mais amanhã!
(*) Médico, ex-presidente e atual secretário geral da Academia Cearense de Letras.
Fonte: O Povo, Opinião, de 29/10/2014. p.14.

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