Médico-Psicoterapeuta
Choram os docentes, do alto e do baixo clero
universitário, ativos e inativos (aposentados). Coincidentemente ou não,
escrevo estas linhas em uma terça-feira de carnaval, quando a folia já está
mais perto de baixar, e os nobres e a plebe, os ricos e os pobres, os
governantes e os eleitores retornam à realidade do cotidiano. Quero lembrar, aqui,
o estudante Alcides do Nascimento Lins, assassinado no dia 5 de fevereiro de
2010, aos 22 anos de idade, e perguntar aos meus leitores: de que vai adiantar
a morte dos Alcides, junto àqueles que driblam a miséria e passam no
vestibular?
Podem verter enxurradas de prantos,
homenagens, crônicas, reportagens, missas, atos públicos, que de nada
adiantará. Minha tese, acreditem, é a de que falta Educação no Brasil. Isto
porque, em verdade, os poucos jovens marginalizados pela pobreza que chegam à
Universidade e rompem a barreira da miséria são mortos, assassinados, moral ou
fisicamente, cedo ou tarde, como o Alcides, filho de uma catadora de lixo.
A maioria daqueles jovens ainda acredita em
nós, professores, quando dizemos: “estudem bastante para poder sair da miséria material e mental, e, desse
modo, poderão ser aproveitados no mercado de trabalho”. É triste o país que faz dos seus jovens as
maiores vítimas das mortes matadas, das mortes morridas, das mortes não
vividas, os mártires das injustiças psicossociais. O assassinato em questão não
ocorreu dentro dos muros universitários!
Quem pensa que o problema de Educação se
resolve, exclusivamente, dentro das escolas, está enganado. É equivalente a um
nobre, na Idade Média, julgar estar protegido do clamor dos súditos, por meio
de fossos, muros, ou pontes levadiças nos castelos. Como os poderosos podem
pensar em ter, como defesa do poder, o uso da tecnologia, sem melhorar a
condição humana?
Não importam os tipos de defesas, as cercas
eletrificadas, os sensores, as câmaras de vigilância, a internet, as seguranças
particulares, todos esses paredões de nada valem quando a injustiça social
penetra nas paredes de taipa de uma escola do interior, ou nos muros da
Universidade. E há quem acredite, ainda, que a escola é o segundo lar, quando
se sabe que o primeiro jamais existiu. O jaleco que a mãe de Alcides vestia, no
dia em que foi à delegacia para depor, é o emblema da enganosa política socioeducativa
e caritativa brasileira.
Quando é que vamos entender que um diploma
não é um passaporte para a cidadania? Um dos sambas que Martinho da Vila canta
continua sendo bastante atualizado: (¹) 'Felicidade!
Passei no vestibular, mas a faculdade é particular. Particular, ela é
particular; particular, ela é particular... Livros tão caros, tanta taxa prá
pagar; meu dinheiro muito raro, alguém teve que emprestar...'.
Dizem que o Brasil é um país sentimental,
além de ser musical. Seja lá como for, é importante deixar claro que lágrimas
não servem para ressuscitar ninguém. É preciso muito mais do que isso!
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco.
Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE)
e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES). Consultante Honorário da
Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).
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