sexta-feira, 1 de junho de 2018

PERGUNTAR OFENDE? (Filhos da Tecnologia)

Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
A tecnologia tem modificado a concepção humana, além de criar sonhos de consumo dispendioso, cuja realização nem sempre é possível.
A mídia e o marketing não se cansam de apregoar os milagres dos métodos de fertilização in-vitro, com menções constantes a doadores de espermatozoides, doadoras de óvulos, mães de aluguel e outras parafernálias e, penachos tão à aspiração dos tempos presentes. Agora, com a situação regulamentada pela justiça, esse grande nicho de mercado foi robustecido pelos casais homoafetivos. Pouco se notícia sobre a criança nascida por esses diversos métodos do avanço médico-científico. Exclusivamente casos exitosos são propalados e nas mulheres mais idosas, etc.
Já as possíveis e maiores complicações que afetam os filhos são silenciadas. O problema não é o que se noticia e sim o que é omitido. Sempre se esquecem das crianças gestadas desta maneira. Não falo exclusivamente das deformações físicas e de outros acidentes de percurso que podem ocorrer em qualquer gestação. Refiro-me à psicodinâmica (aqui entendida como estudo dos processos mentais e emocionais subjacentes ao comportamento humano, e de sua motivação, em especial quando se manifestam em resposta inconsciente às influências ambientais) desses “produtos” gestacionais.
Como se posicionar com relação as crianças geradas pela tecnologia? Dizer a verdade?  Ou nada dizer? Como elas reagem ou vão reagir ao tomar conhecimento desses novos conceitos de maternidade ou paternidade? Contar ou não contar a verdade biológica? A maioria desses pais, quando decidem contar a verdade a essas crianças já crescidas, relatam as mais diversas histórias, mas todas têm uma coisa em comum: o anseio por uma criança e a busca por aquela criança. Relatam sobre como ela é especial e quão profundamente ela é amada. Aconselho aos casais de todos os tipos a lerem - para principiar - o que diz o site da Mayo Clinc:

 A fertilização in-vitro (FIV), é uma série complexa de procedimentos utilizados para tratar a fertilidade ou problemas genéticos e auxiliar na concepção de uma criança. Durante a FIV, ovos maduros são coletados (recuperados) de seus ovários e fertilizados por esperma em um laboratório. Em seguida, o óvulo fertilizado (embrião), também chamado de ovo, é implantado no útero da futura mãe. Um ciclo de FIV leva cerca de duas semanas. A FIV é a forma mais eficaz de tecnologia de reprodução assistida. O procedimento pode ser feito usando os próprios óvulos da mãe e esperma do seu parceiro. Ou, ainda, a FIV pode envolver óvulos, esperma ou embriões de um doador conhecido ou anônimo. As chances de ter um bebê saudável usando a FIV dependem de muitos fatores, como a idade e a causa da infertilidade.
Além disso, a FIV pode ser um processo demorado, caro e, invasivo. Se mais de um embrião é implantado no útero, a FIV pode resultar em uma gravidez com mais de um feto (gravidez múltipla). O médico pode ajudar pretensos pais e mães a entender como funciona a FIV, os riscos potenciais envolvidos e se este método de tratamento da infertilidade é o ideal em cada caso específico.
Mas... como perguntar não ofende, insisto em fazê-lo: como será a psicodinâmica desses meninos e meninas? Será que o médico sabe?
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES). Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha). Foi um dos primeiros neonatologistas brasileiros.

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