terça-feira, 26 de junho de 2018

QUO VADIS?


Por Weiber Xavier (*)
A saga por um leito de terapia intensiva tem sido uma batalha diária para muitos pacientes. As UTIs criadas com o objetivo de dar suporte clínico, tecnológico e humanizado ao doente crítico com potencial de recuperação e, portanto, um lugar de vida, tornou-se um privilégio de poucos e muitas vezes com sua função primordial deturpada, tornando-se um lugar sem esperança.
A falta de estrutura para o doente grave nos postos de saúde, emergências e UPAs é gritante. Muitos são admitidos nas UPAs e não conseguem ser transferidos a tempo para as UTIs e permanecem muitas vezes dias, inclusive entubados em ventilação mecânica, em ambientes improvisados. Veja a situação das emergências dos maiores hospitais públicos do CE para constatar a situação de guerra nos corredores repletos de doentes graves sem ter para onde ir. Essa espera de dias por um leito de UTI é absurdamente angustiante.
Além da falta de leitos, equipamentos e profissionais qualificados soma-se a questão agora da judicialização. As prioridades técnicas estabelecidas para normatizar a admissão dos pacientes graves, infelizmente, muitas vezes são atropeladas pela judicialização, cada vez mais presente nessas decisões que fogem do médico responsável pela admissão do paciente grave em UTI.
A população excluída que usualmente não tem acesso a um bom advogado, fica preterida por quem tem acesso a uma demanda judicial. É difícil para uma família entender que o seu filho jovem, vítima de acidente com politraumatismo, enquanto grave, permaneceu num corredor à espera de cuidados intensivos, e que esse leito foi disponibilizado anteriormente para um paciente sem perspectiva de recuperação, mas por meio de uma liminar judicial.
Para onde vão os doentes graves quando a porta de entrada das emergências e UPAs já se depara com corredores lotados? Certamente não irão a Roma nem aos Palácios do Bispo nem da Abolição. Essa pergunta angustiante é diariamente feita por aqueles profissionais que se dedicam aos doentes graves e, infelizmente, não encontram resposta nem interesse em ser atendida.
(*) Médico e professor de Medicina da UniChristus.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 23/5/2018. Opinião. p.18.

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