Limpar os pés e
mudar as sandálias
Eu, particularmente, entendi quando Juju escreveu aquele
letreiro enorme na frente de casa, inaugurando novo ponto de venda de belíssima
guloseima no bairro. Sujeito de bom coração, poucas letras, primeiro: não
conseguiu ter filhos – o vizinho Wether teve 12. Segundo: casado com Wanja,
Wether era feliz no lar. Juju? Nem casar, casou. Quando acabar, confidenciou
com ponta de tristeza: rolou inveja, ciúmes do vizinho.
Sim, entendi o porquê da forma como Juju abriu aquele
letreiro que chamou tanto a atenção da população, que tem comprado seu
produto-mor adoidadamente. Nomes dos filhos de Wether e Wanja: Wendel,
Wellington, Weber, Windson, Wescley, Washington, Welber, Willy...
O que estava escrito na placa encomendada por Juju:
“Wende-se pomonha”.
A vida, acima
de tudo...
No entanto, não era bem assim que Dedé entendia. Vacina,
no entendimento dele, só se fosse de graça. “E de ruma!”. Medo de morrer, tendo
muito, é que o levará amalucadamente a procurar por aquela que vai livrar Dedé
de contrair a gripe H1N1 ainda na madrugada de domingo. Acontece que ele mora
no pé da serra, e por ali, nem pé de pessoa havia, o que dizer posto de saúde.
Radinho de ‘piula’ ligado na única emissora que pegava na
região, ouve o locutor falar que a dita vacina só chegaria lá pra maio. Mas
que, na cidade, se o caba tivesse força no bolso, poderia comprar a vacina por
R$ 140. Dedé deu uma upa e gritou:
- Morro, mas não gasto 140 reais na fulerage duma vacina
dessa!!!
Senhora morte
Velávamos o corpo do amigo Zé Olavo. E, em momento de
calmaria, a ligeira busca no zap pelas últimas fofocas. Celular precário de
internet, pergunto ao moço da funerária qual a senha do wifi e juro que o ouvi
responder:
- vemcomigo@meucolega!
Minha mulher, igualmente pouca das oiças...
- Vai tu sozinho, elemento!
Pequenas coisas
miúdas
Essas aqui são do impagável João Gualberto, o brabo.
Natural de Quixeramobim, é do tipo que não perde oportunidade de enfiar a
opinião dele no assunto alheio. Tomando sua caninha com torresmo no bar dos
Três Papudos, olhos grelados na TV. Apresentador avisa que no programa
#partiunãoseioque de amanhã, teremos as belezas da cidade tal. João:
- Queria ver na televizinha o #pariuquixeramobim!
Dois sobrinhos se achegam, perguntam se podem filar um
copinho de cerveja. Gualberto anui, mas, preocupado com o tira-gosto pouco e
caro, observa:
- Nós três aqui dialogando, me ocorreu: vocês já vêm
comido de casa?
E a derradeira dele por ora, na verdade uma descoberta:
por mais tecnologicamente de ponta seja o processo de identificação biométrica
na portaria da secretaria onde trabalha, o dedo da mão direita dele não
funciona no leitor. Por quê? Dedé diz:
- É coçar o direito e o dedo em tela perder o gabarito
digital. Incrível! Fico estupefato! A catraca não funciona. Ou passo ou baixo
ou pulo. Ou vou pra casa descansar. Fico estupefato! Que saco!
Fonte: O POVO, de 27/4/2018.
Coluna “Aos Vivos”, de Tarcísio Matos. p.2.
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