Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
O
termo “ansiedade” tem várias definições nos dicionários não técnicos: aflição,
angústia, perturbação do espírito causada pela incerteza, relação com qualquer
contexto de perigo, entre outros….
Muitas
vezes negligencia-se o cuidado à criança ansiosa, pois é comum acreditar que
somente adultos desenvolvem o transtorno de ansiedade. Com raras exceções, os
pais não conseguem distinguir o que é real do que é fantasiado pela criança.
Acreditam que tudo não passa de fantasias, imaginação. A ansiedade é saudável
até certo nível, desde que após a ocorrência da situação que a causou o estado
ansioso desapareça e a criança volte ao seu estado normal.
Caso
a ansiedade persista após o acontecimento receado, em alguns casos pode ser uma
doença, reconhecida pela OMS (Organização Mundial da Saúde) desde 1992 e que
tem várias modalidades e classificações técnicas.
Caso,
ainda, essa doença seja realmente verdadeira, os leitores vão entender a
minha ansiedade sobre o futuro da humanidade e a minha discordância de artigo
que apareceu em publicação médica das mais importantes e respeitadas. O artigo
é intitulado: Medicação e Terapia Comportamental para Transtornos de Ansiedade
Pediátrica. (Subtítulo: – Não há necessidade de ansiedade no tratamento da
ansiedade). JAMA-Pediatrics, volume
171, Number11, ano 2017, informando que os distúrbios de ansiedade estão entre
as condições de saúde comportamental pediátricas das mais predominantes,
afetando cerca de 32% dos jovens antes da idade adulta.
Apesar
de tão alta incidência da aflição causada pela ansiedade, os editores desta
publicação – e de outras – estão mais interessados nos resultados do emprego de
medicamentos neurotransmissores/receptores da substância denominada serotonina
(serotonina: é um neurotransmissor segregado pelas células nervosas do sistema
nervoso central que tem um papel importante na inibição da raiva, agressão,
temperatura corporal, humor, sono, vômito e do apetite) somados aos efeitos
terapêuticos quando associados à Psicoterapia Cognitiva-Comportamental (TCC).
Desconhece-se
se esses efeitos perduram até a idade adulta. Será que não seria mais
importante sabermos como estamos educando, tratando e incentivando a competição
entre nossas crianças e jovens, evitando assim que mais de 32% das crianças e
adolescentes no Primeiro Mundo (USA) apresente essa ocorrência assustadora?
O
que não deve estar acontecendo com as crianças e adolescentes das favelas
(agora denominadas comunidades) ou mesmo nas casas dos mais ricos do Brasil!
Para
concluir gostaria de esclarecer/relembrar/enfatizar que no mundo do
cientificismo quase sempre esquecemos de que não somos escravos dos neurônios
ou de sua cognição…
Vale
lutar por um mundo menos ansioso e mais saudável, mesmo que isso seja uma
guerra perdida.
(*) Professor Titular da Pediatria
da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União
Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos
(ABRAMES). Consultante
Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).
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