quinta-feira, 27 de junho de 2019

A ANSIEDADE DAS CRIANÇAS


Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
O termo “ansiedade” tem várias definições nos dicionários não técnicos: aflição, angústia, perturbação do espírito causada pela incerteza, relação com qualquer contexto de perigo, entre outros….
Muitas vezes negligencia-se o cuidado à criança ansiosa, pois é comum acreditar que somente adultos desenvolvem o transtorno de ansiedade. Com raras exceções, os pais não conseguem distinguir o que é real do que é fantasiado pela criança. Acreditam que tudo não passa de fantasias, imaginação. A ansiedade é saudável até certo nível, desde que após a ocorrência da situação que a causou o estado ansioso desapareça e a criança volte ao seu estado normal.
Caso a ansiedade persista após o acontecimento receado, em alguns casos pode ser uma doença, reconhecida pela OMS (Organização Mundial da Saúde) desde 1992 e que tem várias modalidades e classificações técnicas.
Caso, ainda, essa doença seja realmente verdadeira, os leitores vão entender a minha ansiedade sobre o futuro da humanidade e a minha discordância de artigo que apareceu em publicação médica das mais importantes e respeitadas. O artigo é intitulado: Medicação e Terapia Comportamental para Transtornos de Ansiedade Pediátrica. (Subtítulo: – Não há necessidade de ansiedade no tratamento da ansiedade). JAMA-Pediatrics, volume 171, Number11, ano 2017, informando que os distúrbios de ansiedade estão entre as condições de saúde comportamental pediátricas das mais predominantes, afetando cerca de 32% dos jovens antes da idade adulta.
Apesar de tão alta incidência da aflição causada pela ansiedade, os editores desta publicação – e de outras – estão mais interessados nos resultados do emprego de medicamentos neurotransmissores/receptores da substância denominada serotonina (serotonina: é um neurotransmissor segregado pelas células nervosas do sistema nervoso central que tem um papel importante na inibição da raiva, agressão, temperatura corporal, humor, sono, vômito e do apetite) somados aos efeitos terapêuticos quando associados à Psicoterapia Cognitiva-Comportamental (TCC).
Desconhece-se se esses efeitos perduram até a idade adulta.  Será que não seria mais importante sabermos como estamos educando, tratando e incentivando a competição entre nossas crianças e jovens, evitando assim que mais de 32% das crianças e adolescentes no Primeiro Mundo (USA) apresente essa ocorrência assustadora?
O que não deve estar acontecendo com as crianças e adolescentes das favelas (agora denominadas comunidades) ou mesmo nas casas dos mais ricos do Brasil!
Para concluir gostaria de esclarecer/relembrar/enfatizar que no mundo do cientificismo quase sempre esquecemos de que não somos escravos dos neurônios ou de sua cognição…
Vale lutar por um mundo menos ansioso e mais saudável, mesmo que isso seja uma guerra perdida.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES). Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).

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