Por Dom Walmor Oliveira de Azevedo (*)
"Nunca maltratamos e ferimos tanto a nossa Casa Comum como
nos últimos dois séculos." Essas
palavras do Papa Francisco, na Carta Encíclica Laudato Si' - sobre o cuidado
com a Casa Comum, revela triste situação: em nome da ganância sem limites,
devasta-se o meio ambiente, submete-se tudo ao domínio do dinheiro, até mesmo a
vida. "Tapar os olhos" para não enxergar essa realidade pode causar
certo conforto para alguns, comprometidos apenas com a tarefa de acumular
ganhos pessoais. Mas, cedo ou tarde, tragédias humanas e ambientais colocam em
evidência os crimes praticados contra o planeta. E a indiferença é abalada
pelos golpes da própria realidade.
Em Minas
Gerais, as tragédias em Mariana e Brumadinho mostram que o modelo de
desenvolvimento econômico sustentável é ainda um sonho distante. E engana-se
quem permanece indiferente, achando estar seguro diante da exploração
predatória dos recursos naturais. O Papa Francisco, na Carta Encíclica sobre o
cuidado com a Casa Comum, sublinha importante ensinamento do Catecismo da
Igreja, sobre a interdependência de todas as criaturas: "O sol e a lua, o cedro e a florzinha, a águia e o pardal
- o espetáculo das suas incontáveis diferenças e singularidades significa que
nenhuma criatura se basta a si mesma. Elas só existem na dependência umas das
outras, para se completarem mutuamente no serviço umas das outras".
A
indiferença diante da necessidade de se buscar o equilíbrio ecológico deve ser
superada. E a Igreja Católica, sob a liderança do Papa Francisco, busca oferecer
a sua contribuição. Neste ano, será realizado o Sínodo para a Pan-Amazônia. É
missão urgente encontrar caminhos para levar o Evangelho da Vida ao território
amazônico, muitas vezes esquecido e desrespeitado, transformando realidades à
luz dos ensinamentos do Mestre Jesus.
Seja
acolhida no coração de cada um a convocação do Papa Francisco: todos busquem
viver uma conversão ecológica, que significa deixar emergir, nas relações com o
mundo, as consequências de um autêntico encontro com Jesus Cristo. "Viver a vocação de guardiões da obra de Deus não é algo
opcional nem um aspecto secundário da experiência cristã, mas parte essencial
de uma existência virtuosa." Assim se
cultiva a imprescindível harmonia entre tudo que habita a Casa Comum.
(*) Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte e
presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Fonte: O Povo, de
31/5/2019. Opinião. p.21.
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