Assina o nome porque tem queda pra
desenho...
O amigo Paulo Marcelo ("o bigode que ensina") avisa que o
dr. Tabosa finalmente aceitara disputar o pleito, concorrendo à vaga de
vereador. Atendia pedido do amigo Zé de Baxim, que resolveu pendurar as
chuteiras, famoso que era por haver concorrido a 20 eleições - vereador,
síndico, coveiro, carregador de santo em procissão e até inspetor de quarteirão
em tempo de chuva com pouco cururu nas ruas. E jamais haver experimentado o
sabor de uma vitória.
Mas, Tabosa topou o desafio. Sobretudo porque (iludido à moda porco
em chiqueiro) aproveitaria o fiel e espumante curral eleitoral do Baxim.
Curral? Bem, o "grupo de eleitores sob a influência" de Zé, segundo
soubemos, nunca passara de um único voto. Em tempo algum descobriu-se o besta
que o fizera, porquanto Zé ficava melado no dia das eleições, deixando de
escrutinar o próprio nome.
Tabosa cai em campo, sempre acompanhado do mentor. Promete nova
forma de fazer política. Nada de empregar parentes, "exceção feita a
cunhadas naturalmente incorporadas à família". Não compraria votos com
dentaduras, óculos, chinelas ou tijolos. "Compra com dinheiro, se tiver...
na ruma!", completava Zé de Baxim, de si para consigo.
Toma gosto enquanto faz campanha. Certo dia, à caça de votos, passa
em frente à casa de dona Assunta e logo ela lhe pede "um óculo",
alegando não enxergar há mais de 10 anos. O "canidato" esclarece não
poder atender à solicitação, era ilegal, não compunha o modo de fazer a nova
política. Mas, Zé de Baxim dá-lhe um toque, sussurrando: "Homi, nessa casa
deve ter uns 18 eleitores, juntando filhos, 'cacaranetos', netos e sobrinhos da
véa". Tabosa tenta consertar:
- Pensando melhor, dona...
Ligeiro, de olho nos "picinês" do doutor, Assunta dá uma
de pidona:
- Deixa eu experimentar esse seu aí, vai que...
Ele se esquiva, explica que não, que era preciso primeiramente
fazer os exames para a escolha correta das lentes.
Baixim volta a lembrar, empurrando o braço no braço de Tabosa:
-
Homi, a mulher tem voto! É no "rôdo"!
Tabosa permite que Assunta experimente os seus. Pense numa mulher
contente.
- Estou inxergando é tudo! Inté pensamento!
Complementou, com sustança:
- E tu, Zé de Baxim!?!
Como tu tá grande, macho!!!
Adeus óculos! Restou aos dois se despedirem da futura provável
eleitora. O candidato, contudo, cismou. Achou estranho aquele
"crescimento" do Baxim, de acordo com Assunta. Convidados
insistentemente a ficar, tornaram a se abancar. Agora vendo tudo, a dona da
casa oferece:
- Quer uma maçã, Dr. Tabosa?
A fruta era uma ciriguela. Aí ele ficou mais preocupado. Decide, de
vez, ir-se embora, alegando compromissos. Mas, não conseguiu fugiu à maternal
convocação:
- Esperem, vou com vocês à feira comprar o que preciso prum
almoço caprichado, em agradecimento pelo "óculo".
Baixim pisca para Dr. Tabosa, em sinal de positividade. Os demandam
o mercado. Proseiam. Chegam. O candidato até achou bom, pois encontrou alguém
vendendo semente de gergelim - ele come gergelim pilado e torrado pra limpar as
tripas. A mulher se antecipa e, mirando o conteúdo do saco, fala admiradíssima:
- Muito obrigado pelos óculos, Dr. Tabosa! Meu Deus!
Coloca as sementes de gergelim na mão, analisa e dispara:
- Fazia muito tempo que eu não vejo uma fava tão bonita
assim!
E arremata, feliz da vida:
- Vou levar só mêi quilo para fazer o almoço de vocês!
Fonte: O POVO, de 30/11/2018.
Coluna “Aos Vivos”, de Tarcísio Matos. p.2.
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