Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
Nestes tempos tão conturbados o brasileiro da classe
média urbana, como eu, vive com medo e desesperança. Costumamos
dividir o tempo em três partes: passado, presente e futuro. Segundo Santo Agostinho, só temos a capacidade
de perceber e avaliar o tempo no momento em que ele decorre; e afirma que
nem o passado nem o futuro existem, mas apenas: — o presente do passado, — o
presente do presente e — o presente do futuro. E finaliza: O presente do
passado é a memória; o presente do presente é a intuição direta; o presente do
futuro é a esperança.
Em síntese, quando muitos dos que estamos aqui e
agora — no presente do presente — perdem a esperança, é como se estivéssemos a
enfraquecer o presente do futuro e com ele a nossa esperança, que sentimos
ameaçada.
Esse é um sentimento de fácil compreensão: a
esperança seria a maior das forças humanas, se não existisse o desespero, uma
forma de esperança negativa, quando já estamos tão mal que achamos não ser
possível estarmos piores.
Neste presente do presente, como vamos exigir que o
povo brasileiro tenha esperança no – presente do futuro? Mas basta de filosofia
e queixumes. Estamos na época das estatísticas e algoritmos. Vamos aos números.
Pesquisa de opinião pública realizada pela FGV/DAPP
(Fundação Getúlio Vargas) aponta que a insatisfação dos brasileiros
no atual contexto se reflete numa falta de confiança generalizada no
presidente (83%), nos políticos (78%) e nos partidos (78%), expressa em todas
as regiões, faixas etárias e de renda (2016).
No entanto, ainda considerando o contexto atual, a
grande maioria dos respondentes (83%) ainda tem esperança no futuro do
Brasil. Mas não devemos esquecer que a nossa vida é breve e não permite
longas esperas. A esperança é um bom café da manhã e um péssimo jantar.
O calendário das Eleições Presidenciais de 2018 no
Brasil foi aprovado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no dia 10 de
novembro de 2015. O primeiro turno acontece no dia 2 de outubro de 2018 e o
segundo turno (se houver) será no dia 30 de outubro. Até agora temos 19
pré-candidatos, segundo a mídia. São todos políticos conhecidos.
Aqui no Brasil o candidato tem que ser filiado a um
partido político. Dificilmente pode acontecer no Brasil o que sucedeu na França
que elegeu Emmanuel Macron, 39, um desconhecido do público francês. Ele havia
lançado um novo movimento político, o En Marche! (Em Marcha),
afiançando que o partido não é um grupo de esquerda nem de direita.
Quatro meses depois, renunciou ao cargo de ministro
da Economia e apregoou que concorreria à Presidência da França. Foi eleito e
tem como um dos seus lemas como presidente da república francesa:
“Quero ser uma página de esperança e de
confiança renovada”.
Tenho a esperança que um dia algo semelhante venha a
acontecer no Brasil.
(*) Professor Titular da Pediatria
da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União
Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos
(ABRAMES). Consultante
Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).
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