No país da minhalma
Só pode é ter sido! Jair Morais Poeta dos Cachorros, ele de novo,
'deve de ter' tomado duas terças de mocororó vencido e ficou mental!
Escreveu-me à mão carta com tantas catrevagens transcendentais que até agora
estou com o juízo zunindo. Para começar, afirmou inexorável: "Acredite no
amanhã, jornalista. Quando o amanhã virar hoje, aí sim, pode começar a duvidar
do agora". Deu pra entender?
Reli a frase meia dúzia de cinco ou seis vezes. Pensei, matutei,
pedi ajuda ao pessoal do primeiro ano forte. Ninguém soube desvendar a coisa desse
iniciado - iniciado na fulerage! Sim, Jair só pode é ser um Hermes da mais alta
gaiatice cósmica do outro mundo sideral intergalático! E eu provo. Conta-me
que, decepcionado com Beethoven, largará a Banda Marmota dele para ser um
grande empresário no ramo de pirulito sem cabo, colírio pro ôi da goiaba, pasta
de dente no próprio dedo, escova de cabelo de pentêi de barrão e buchadinha de
calango.
Para lograr bom êxito na empreitada (inscrever-se-á em cursos do
Instituto Universal Brasileiro), afirma fará consórcio com gente de elevado
gabarito. Cita alguns profissionais de expertise que irá buscar: pegador em fio
descascado com a mão para ver se tem corrente, engraxate de pata de jumento,
barbeiro de bigode de gato, fiscal de banheiro público e assoador de catarro em
pau da venta de véi.
Acha que eu estou com prosa? Pois olhe só o ror de produtos que
jura exportará já no início do próprio governo: calção de banho pra cachorro
d'água, secador de cabelo de milho, pandeiro de couro de fimose, espremedor de
espinha de peixe, DVD de mariola e sinalizador de urubu. Especificamente para
esses itens, deverá contar com o apoio luxuoso de mexedores de panela pro lado
esquerdo, sopradores de cangote de garçom, pintores de penico, manicures de
unha de vaca, mestres de obra de fossa e leiteiros de peito de homem.
Finaliza a missiva tonta com poema que diz não ser dele, mas que
cabe como uma luva para o momento: "Um dia, com diarreia / No terreiro
tirei a roupa / E disse para as galinhas / Vão embora, hoje é sopa". Arre
égua, Jair!
Da primeira vez era cidade...
No entretítulo da carta de 46 laudas do Jair (A primeira vez das
coisas), o Poeta explica como teria sido a experiência inaugural do homem em
vários lances. Exemplo: o primeiro caju saboreado. No início, os colegas
neandertalenses chupavam a castanha, amando queimar a boca, e jogavam aos
javalis o caju, do qual, a partir da Idade Média, começaria a humanidade a
fazer o suco que hoje se bebe.
- Um dia, melado,
desgostoso da vida, o bicho de urêa de Nandertal, sem querer, mordeu o
pseudofruto, bem docim, e teve a sensação de algo tão bom quanto a presença da
mulher em casa.
A outra primeira vez famosa, conforme o Poeta dos Cachorros, foi a
descoberta de que o papel higiênico poderia ser o substituto ideal (soft e
light) do sabugo - em etapa posterior ao dedo fura bolo propriamente dito.
Assim:
- Escrevia Dom François
uma carta no mato, escorando o papel na prancheta, quando lembrou do sabugo
deixado na escrivaninha. Dedos ágeis na feitura da missiva, observou grosseiros
erros de português (lá era francês). O que fez? Chutou o tinteiro e 'se
limpou-se' (frente e verso) com o papel, rasurando a 'coisa', em cheio, no
tradicional pensamento: "Navegar é preciso..."
Fonte: O POVO, de 16/11/2018.
Coluna “Aos Vivos”, de Tarcísio Matos. p.2.
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