Por Nizan Guanaes (*)
Agradeço a Deus por uma parte da
humanidade ter se dedicado a cuidar de nós
Esta coluna é dedicada aos
médicos e a todos os profissionais de saúde.
Meu olho enche de lágrima só de
pensar nesse exército de homens e mulheres que se expõem para nos salvar, para
nos cuidar, para nos acalmar, para nos consolar.
Imagine os médicos e enfermeiros
da Itália, da China, do Brasil. Graças a um deles você veio ao mundo, um filho
seu foi salvo, um curou a Donata, outro me salvou de quase virar alcoólatra.
No mundo em que se fala tanto de
propósito (tantas vezes da boca para fora), esses caras são o propósito vivo. A
grande maioria ganha pouco, ou deveria ganhar muito mais.
Milhares e milhares vão enfrentar
o vírus do momento, mas ele já foi a peste bubônica, a peste negra, a
tuberculose, a Aids...
Médico, para mim, não deveria
pagar Imposto de Renda, não deveria pagar transporte público, não deveria pegar
fila.
Conheço bem. Meu pai foi um
deles. Lembro-me dele arrasado toda vez que perdia um paciente. Exultante
quando salvava alguém.
Ler a vida de Hipócrates é um espetáculo.
Ver como ele estabeleceu em priscas eras os processos, como registrou
meticulosamente os sintomas das doenças. E se expôs a elas num mundo de tão
pouca assepsia.
Eu adoro médico. Sou
hipocondríaco. Um dia fui dar uma palestra na Escola Paulista de Medicina e
falei para 300 médicos. Nossa! Por mim, eu trancava a sala e morava ali, só
aprendendo e trocando receitas.
Então, hoje, aproveitando que tem
tantos políticos nos hospitais e de quarentena, reflitamos sobre o que podemos
fazer por eles. O que podemos aprender com eles.
É para você, jovem médico da
Lombardia ou de Paraopeba, que eu rezo nesta Quaresma.
E agradeço a Deus por uma parte
da humanidade ter se dedicado a cuidar de nós.
Meu psiquiatra, por exemplo, tem
um sobrenome lindo: Guerra. Arthur Guerra luta todo dia contra a depressão, a
bipolaridade, as neuroses e as compulsões das pessoas. Ele me devolveu o sono,
o norte. É quase cura. Porque ele é muito bom, mas não é Deus (kkk).
O Dia do Médico é em outubro. E
eu proponho que esse seja um acontecimento especial. Que as TVs abracem a data.
Que a imprensa mobilize o país para agradecer pelo que fizeram, pelo que estão
fazendo e pelo que farão.
Este meu texto está meio cafona.
Todas as cartas de amor são ridículas, dizia Fernando Pessoa.
Este artigo é para a gente
refletir nessa Quaresma. Qual é o nosso propósito na Terra? Somos fiéis a ele?
Ou estamos seguindo o triste caminho do propósito nenhum?
Os médicos sabem melhor o sentido
da vida porque vivem todo dia com a morte.
Eles veem o que os homens pensam
quando estão terminais, quando perdem os que amam. Eles veem crianças que nunca
viveram, mas também têm a satisfação máxima de salvar, de curar, de trazer ao
mundo ou consolar o inconsolável. Eles estão salvando a gente desse inimigo
letal e invisível, enquanto você lê seu jornal e eu me resguardo em minha
quarentena.
Mas são eles que colocam esta
raça no mundo e que apertam nossa mão quando nos despedimos do mundo.
Penso nos médicos nas guerras,
nos que trabalham em Aleppo, na Síria, nas Torres Gêmeas, em Hiroshima. Muitos
morreram no dia de hoje por causa dessa ou de outra doença.
Meu irmão é médico. Nesses dias
eu tenho pensado muito nele, que dirige hospital de doenças contagiosas.
Por que um ser humano escolhe
viver assim? Porque esta raça é humana. E é por você, jovem médico, que vai
assustado, mas orgulhoso para o seu trabalho, que esta raça pode ser chamada de
humana.
(*) Empreendedor e fundador do Grupo ABC.
Fonte: Internet (circulando
por e-mail e i-phones). Publicado In: Folha de S. Paulo, terça-feira, 24 de
março de 2020.
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