domingo, 8 de março de 2020

PESAR POR PROFA. SUZANA DIAS RIBEIRO


Comunico, com intenso pesar, o falecimento na manhã de hoje (8/3/20) da Profa. SUZANA DIAS RIBEIRO, viúva do Professor José Carlos da Costa Ribeiro, e mãe do nosso colega patologista clínico Carlos Ribeiro Neto.
Conhecia D. Suzana há mais de quarenta anos e privava da sua amizade, tendo sido recebido por ela, em sua residência, por muitas vezes. Ela e seu esposo foram os meus padrinhos do casamento religioso em 7/02/1981. Tínhamos uma mútua afeição e por ela era tratado de uma forma sempre especial e, costumeiramente, eu lhe dava os livros de minha autoria.
A dona Suzana, normalista diplomada pelo Colégio da Imaculada Conceição, foi professora por muitos anos. Foi uma das fundadoras da Sociedade Amigas do Livro (SAL), entidade que presidiu por diversas gestões, e pertencia à Academia Fortalezense de Letras.
Essa centenária senhora, ainda lúcida, amiúde se fazia presente em evntos culturais e solenidades da Academia Cearense de Medicina, ocupando lugar de destaque na mesa diretora, como a viúva do secretário perpétuo da Academia Cearense de Medicina, bem como nos eventos sociais e literários das agremiações e academias sediadas em Fortaleza.
O velório está acontecendo na funerária Aethernus, desde às 11 horas, a missa de corpo presente será às 15 horas e o sepultamento às 16 horas.
Quando jovem, possuidora de uma cativante beleza, aos 18 anos, em 1935, foi eleita rainha dos estudantes de Fortaleza. No tocante a esse momento tão singelo de sua vida, tomo a liberdade de replicar neste blog, logo abaixo, a postagem que fiz em 22/7/15 do artigo de autoria do Antero Coelho Neto, publicado em O Povo, Opinião, de 24/6/2015. p.8.
ELA, A RAINHA
Por Antero Coelho Neto (*)
Sempre tenho me dedicado muito aos idosos. Por isso, a minha luta, desde quando fui para a Organização Mundial da Saúde, pela longevidade com qualidade de vida da população. E passei a estudá-los nas suas diferentes perspectivas atuais e possibilidades futuras de vida. Vários exemplos de idosos passaram a ser, então, importantes para mim.
Hoje, lembro para vocês uma vida que serve de exemplo. Era o ano de 1935. Nessa noite, as moças da família estavam em ansiosa e alvoraçada animação. Preparavam-se para sair e, nos meus tranquilos 5 anos, fui levado pela mão por uma irmã. Não sabia para onde me levavam, mas falavam de ver uma rainha.
Chegamos próximo ao Parque da Liberdade ou Cidade das Crianças. Era lá o “castelo”. Havia enorme multidão curiosa em frente a uma casa bonita, senhorial, de janelas grandes, toda iluminada para a grande festa que movimentava toda a cidade. Era a coroação da Rainha do Estudante e aquele palacete era sua casa. Dali ela iria ao Theatro José de Alencar para assumir o seu reinado.
Enfim, surgiu a rainha, loura, linda, majestosa nos seus 18 anos. Seu nome era Suzana Dias. Eu, encantado com aquela visão mágica, estava fascinado pela beleza da primeira rainha que eu via ao vivo.
Muito mais tarde, por caprichos do destino, conheci outras rainhas. Em Brasília, a rainha Elizabeth da Inglaterra e, em Caracas, a rainha Beatriz, da Holanda. Mas nenhuma delas se comparava ao que eu vira deslumbrado.
Suzana era aluna do Imaculada Conceição e destacava-se pela dedicação aos estudos. Diplomada como professora, exerceu o magistério como excelente educadora.
Sempre amou os livros e, assim, construiu uma vasta cultura que é a sua marca pessoal. Muitos anos depois, quis o destino que a rainha Suzana se tornasse minha tia-afim, por meu casamento com sua sobrinha. Casou-se jovem e, com o médico José Carlos da Costa Ribeiro, tiveram quatro filhas e um filho. Netos e bisnetos compõem sua descendência numerosa.
Ao longo desses últimos 60 anos, passei a admirar sua presença forte e extraordinária personalidade agregadora e seus estilos de vida. Sua família e seus amigos são cuidados com desvelo e carinho.
Lúcida, criativa, matriarcal e, sempre antenada à modernidade, lançou aos 96 anos, um livro, com a presença de muitos amigos, com suas receitas e de parentes. É membro da Academia Fortalezense de Letras e foi fundadora da Sociedade Amigas do Livro.
Hoje, a caminho dos 98 anos, sempre altiva, elegante, sensível, generosa e determinada, é um notável exemplo de longevidade, resistindo, ao leme e com firmeza, às limitações que o tempo nos impõe.
Em 2010, quando fui presidente da Academia Cearense de Medicina, de cujo marido, José Carlos Ribeiro foi um dos seus importantes fundadores, tive a oportunidade de estabelecer a simbólica “Cadeira Sempre Presente” que Suzana Ribeiro usa nas solenidades. Ela participa ativamente de quase todas as reuniões festivas.
E que fique, para todos, a certeza do que a pesquisa vem demonstrando há vários anos: 60% a 70% da nossa longevidade depende dos estilos saudáveis de vida; 20%, da genética; 10%, do ambiente que vivemos e trabalhamos; e 10% apenas dos cuidados médicos. Vamos pensar na Suzana?
(*) Médico, professor e ex-presidente da Academia Cearense de Medicina.
Nota do Editor do Blog: Essa postagem faço, movido pelo sentimento de perda e sob profunda, saudade, como homenagem derradeira a essa grande dama das letras e da cultura no Ceará. Repousa em paz, junto ao Pai Eterno, terna rainha Suzana
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Da Academia Cearense de Medicina e da Sobrames/CE

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