quinta-feira, 19 de março de 2020

O OVO DA SERPENTE: cautela com os candidatos messiânicos


Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
Comemora-se neste mês de julho o centenário de Ingmar Bergman (1918-2007) diretor do filme ‘O ovo da Serpente’, produzido em 1977 e ambientado na Alemanha da República de Weimar (1925-1933), poucos anos antes da ascensão de Hitler. Passa-se em Berlim, novembro de 1923.
Acompanhamos uma semana na vida de Abel Rosenberg, um trapezista judeu desempregado, logo após descobrir que seu irmão Max se suicidara. Em poucos dias seu mundo irá virar de cabeça para baixo. Bergman reconstruiu meticulosamente a Berlim da época, para tecer uma profunda reflexão sobre as origens do Nazismo.
A expressão “o ovo da serpente” alastrou-se por todo o mundo e serve como parâmetro para tudo que, ao nascer, possa a vir a ser pernicioso ou pode causar futuros prejuízos à coletividade. A chocadeira do ovo da serpente funciona bem quando há: depressão econômica, alta taxa de desemprego, insegurança e a instabilidade sócio-política-moral e inflação. E essas distorções foram os principais motores que levaram o mundo, em pleno século XX, a testemunhar um dos seus mais lamentáveis períodos de domínio de políticos messiânicos, como ocorreu com o nazismo e o comunismo.
No Brasil de hoje, nota-se um viés autoritário na sociedade, além de vivermos uma forte polarização política. O problema é que a corrupção não é a única das enfermidades brasileiras. Não adianta eleger um salvador da pátria para findar com a roubalheira e o banditismo como se esses fossem as causas exclusivas dos desníveis sociais.
Para a filósofa Hanna Arendt, o poder do regime totalitário está centrado na propaganda: “ela visa doutrinar, pois a força da propaganda totalitária reside na sua capacidade de isolar as massas do mundo real com vistas a oferecê-las um mundo completamente imaginário e distante da realidade”. (ARENDT: 1989, Origens do Totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1989. p. 402).
O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele faz de conta que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, dos sapatos, dos remédios, da Justiça, todos dependem de decisões políticas. Ao mesmo tempo, o analfabeto político é tão alienado que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais. Bertolt Brecht (1898-1956).
E essa história de igualdade é uma grande mentira usada pela esquerda para enganar os mais ingênuos que ainda acreditam em Papai Noel. Acorda Brasil! É nos momentos de crise que podemos melhorar nossas vidas e as dos nossos filhos. No meu caso, as dos meus netos.
É bom recordar: no inferno, os lugares mais quentes são reservados àqueles que escolheram a neutralidade em tempo de crise.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES). Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).

Nenhum comentário:

 

Free Blog Counter
Poker Blog