Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
Comemora-se
neste mês de julho o centenário de Ingmar Bergman (1918-2007) diretor do filme
‘O ovo da Serpente’, produzido em 1977 e ambientado na Alemanha da República de
Weimar (1925-1933), poucos anos antes da ascensão de Hitler. Passa-se em
Berlim, novembro de 1923.
Acompanhamos
uma semana na vida de Abel Rosenberg, um trapezista judeu desempregado, logo
após descobrir que seu irmão Max se suicidara. Em poucos dias seu mundo irá
virar de cabeça para baixo. Bergman reconstruiu meticulosamente a Berlim da
época, para tecer uma profunda reflexão sobre as origens do Nazismo.
A expressão
“o ovo da serpente” alastrou-se por todo o mundo e serve como parâmetro para tudo
que, ao nascer, possa a vir a ser pernicioso ou pode causar futuros prejuízos à
coletividade. A chocadeira do ovo da serpente funciona bem quando há: depressão
econômica, alta taxa de desemprego, insegurança e a instabilidade
sócio-política-moral e inflação. E essas distorções foram os principais motores
que levaram o mundo, em pleno século XX, a testemunhar um dos seus mais
lamentáveis períodos de domínio de políticos messiânicos, como ocorreu com o
nazismo e o comunismo.
No Brasil de
hoje, nota-se um viés autoritário na sociedade, além de vivermos uma forte
polarização política. O problema é que a corrupção não é a única das
enfermidades brasileiras. Não adianta eleger um salvador da pátria para findar
com a roubalheira e o banditismo como se esses fossem as causas exclusivas dos
desníveis sociais.
Para a filósofa
Hanna Arendt, o poder do regime totalitário está centrado na propaganda: “ela
visa doutrinar, pois a força da propaganda totalitária reside na sua capacidade
de isolar as massas do mundo real com vistas a oferecê-las um mundo
completamente imaginário e distante da realidade”. (ARENDT: 1989, Origens do
Totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1989. p. 402).
O pior
analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos
acontecimentos políticos. Ele faz de conta que o custo de vida, o preço do
feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, dos sapatos, dos remédios, da
Justiça, todos dependem de decisões políticas. Ao mesmo tempo, o analfabeto
político é tão alienado que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a
política. Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nasce a prostituta,
o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista,
pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais. Bertolt
Brecht (1898-1956).
E essa história
de igualdade é uma grande mentira usada pela esquerda para enganar os mais
ingênuos que ainda acreditam em Papai Noel. Acorda Brasil! É nos momentos de
crise que podemos melhorar nossas vidas e as dos nossos filhos. No meu caso, as
dos meus netos.
É bom recordar:
no inferno, os lugares mais quentes são reservados àqueles que escolheram a
neutralidade em tempo de crise.
(*) Professor Titular da Pediatria
da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União
Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos
(ABRAMES). Consultante
Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).
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