Por Alexandre Sobreira Cialdini (*)
As principais
economias desenvolvidas passaram a investir mais em ativos intangíveis - como
design, branding (gestão da marca e estratégia de marketing), pesquisa e
desenvolvimento e softwares - do que em ativos tangíveis, como máquinas,
edifícios e computadores. As grandes empresas desse segmento não possuem
carros; elas possuem softwares e dados. Cafés e academias, por exemplo,
dependem do branding para se destacar na multidão. Esse é um novo modelo de
capitalismo - sem capital físico, mas baseado em capital intangível.
O relatório
mundial sobre ativos intangíveis
(https://www.wipo.int/publications/en/details.jsp?id=4744) revela que, nas 26
economias analisadas, responsáveis por 52% do PIB global em 2023, o
investimento intangível tem superado, de forma consistente, o tangível desde
2008. Em um trabalho recente, os premiados economistas ingleses Jonathan Haskel
e Stian Westlake, no livro "Capitalismo sem Capital: A Ascensão da
Economia Intangível", demonstraram que compreender a mudança para o
investimento intangível é essencial para entender temas como inovação,
crescimento e desigualdade.
Existem
diferenças fundamentais entre ativos intangíveis e tangíveis. A primeira delas
diz respeito à contabilização. Muitas convenções e regras contábeis ignoram os
ativos intangíveis. No Brasil, a Lei Federal 4.320/64, que regulamenta a
contabilidade pública da União, Estados e Municípios, classifica softwares como
despesa corrente, e não como despesa de capital. Em países como os Estados
Unidos e diversas nações europeias, esse paradigma já foi superado. À medida
que os intangíveis ganham importância, surge a necessidade de desenvolver novas
métricas para mensurar o valor desse "capitalismo sem capital
físico".
A segunda grande
diferença está nas propriedades econômicas dos intangíveis, que fazem com que
uma economia baseada nesses ativos se comporte de maneira distinta de uma rica
em tangíveis. Isso ocorre porque os investimentos intangíveis apresentam quatro
características principais: (1) tendem a representar custos irrecuperáveis; (2)
geram transbordamentos; (3) são escaláveis, permitindo usos repetidos a um
custo reduzido, o que favorece o crescimento rápido de negócios; e (4) possuem
sinergias ou complementaridades, tornando-se mais valiosos quando combinados
corretamente.
Uma preocupação
mais recente, que está na fronteira da análise econômica, é o impacto da
relação entre bens intangíveis e aplicações no mercado financeiro. Foi o que
constatou o estudo "Financeirização e Ativos Intangíveis em Economias de
Mercado Emergentes: Evidências do Brasil" (disponível em: ) publicado na
Revista de Economia de Cambridge. Realizado por três pesquisadoras inglesas, o
trabalho demonstrou que a acumulação de intangíveis é de alto risco, enquanto
os investimentos em ativos financeiros oferecem retornos mais previsíveis - uma
constatação já antecipada por Kenneth Arrow em 1962.
Esse impacto da
financeirização é prejudicial ao Brasil, pois trava as oportunidades na nova
economia. Taxas de juros elevadas e a incerteza macroeconômica comprometem
setores que dependem de inovações tecnológicas e agregam alto valor -, fatores
essenciais para a sustentabilidade do desenvolvimento do país.
(*) Mestre em
Economia e doutor em Administração Pública e Secretário de Finanças e
Planejamento do Eusébio-Ceará.
Fonte:
O Povo,
de 20/03/25. Opinião. p.17.
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