quinta-feira, 24 de abril de 2025

Quem não comunica, se trumbica

Por Sofia Lerche Vieira (*)

O comunicador Chacrinha na década de 1970 e 1980 utilizava muito a expressão "Quem não comunica, se trumbica". Acredito inclusive que é o autor da frase que hoje é de conhecimento público. Traduzindo quer dizer que se a comunicação não for eficaz, se não atingir seu objetivo, vai dar errado, vai criar conflito, confusão. É mais ou menos o que a gente identifica no governo Lula, por mais que tenha feito boas entregas, não as comunica bem, logo abaixa a aprovação de seu governo.

No campo do planejamento de políticas públicas a comunicação interna e externa da política é crucial para sua implementação e seu posterior impacto. Do ponto de vista interno planejar a comunicação intersetorial e institucional dos diversos atores burocráticos responsáveis pela implementação reduz os riscos de reformulações e custo desnecessário. Externamente uma boa comunicação da política garante pouca resistência da população em geral e maior compreensão, informação e adesão dos beneficiários da política em questão.

O que está acontecendo com o governo Lula reflete falta de planejamento da comunicação de suas políticas. Claro que tem outras variáveis interferindo nos índices de aprovação do governo, como a inflação dos alimentos, por exemplo, mas a falta de comunicação de boas entregas do governo, como a volta do investimento em Cisternas, a valorização do salário-mínimo, e agora o projeto de justiça tributária via mudança na tabela do imposto de renda, a ser aprovado no legislativo.

Outras entregas foram pouco exploradas em termos de comunicação. No campo da educação, por exemplo, o programa Pé de Meia, que já demonstrou seus resultados no último ENEM. O PIB que só cresce. Programas de incentivos aos microempreendedores e abertura de crédito. A retomada e reformulação do programa Bolsa Família e Minha Casa e Minha Vida, o Concurso Nacional Unificado para cargos federais, dentre outras iniciativas. A lista é enorme, e pouco explorada.

O episódio da Portaria do Pix, que gerou desinformação e pânico na população em relação a taxação, e acabou por ser revogada, é um sintoma dessa falha comunicacional do governo que precisa ser revista. Soma-se à falta de planejamento na comunicação das políticas a desinformação e Fake News gerada pelas plataformas digitais. Questão que deve ser incorporada no planejamento das políticas, calculando riscos e estratégias de ação.

(*) Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Uece e consultora da FGV-RJ.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 24/03/25. Opinião. p.20.

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