Por Sofia Lerche Vieira (*)
O comunicador Chacrinha na década de 1970 e
1980 utilizava muito a expressão "Quem não comunica, se trumbica".
Acredito inclusive que é o autor da frase que hoje é de conhecimento público.
Traduzindo quer dizer que se a comunicação não for eficaz, se não atingir seu
objetivo, vai dar errado, vai criar conflito, confusão. É mais ou menos o que a
gente identifica no governo Lula, por mais que tenha feito boas entregas, não
as comunica bem, logo abaixa a aprovação de seu governo.
No campo do planejamento de políticas
públicas a comunicação interna e externa da política é crucial para sua
implementação e seu posterior impacto. Do ponto de vista interno planejar a
comunicação intersetorial e institucional dos diversos atores burocráticos
responsáveis pela implementação reduz os riscos de reformulações e custo
desnecessário. Externamente uma boa comunicação da política garante pouca
resistência da população em geral e maior compreensão, informação e adesão dos
beneficiários da política em questão.
O que está acontecendo com o governo Lula
reflete falta de planejamento da comunicação de suas políticas. Claro que tem
outras variáveis interferindo nos índices de aprovação do governo, como a
inflação dos alimentos, por exemplo, mas a falta de comunicação de boas
entregas do governo, como a volta do investimento em Cisternas, a valorização
do salário-mínimo, e agora o projeto de justiça tributária via mudança na
tabela do imposto de renda, a ser aprovado no legislativo.
Outras entregas foram pouco exploradas em
termos de comunicação. No campo da educação, por exemplo, o programa Pé de
Meia, que já demonstrou seus resultados no último ENEM. O PIB que só cresce.
Programas de incentivos aos microempreendedores e abertura de crédito. A
retomada e reformulação do programa Bolsa Família e Minha Casa e Minha Vida, o
Concurso Nacional Unificado para cargos federais, dentre outras iniciativas. A
lista é enorme, e pouco explorada.
O episódio da Portaria do Pix, que gerou
desinformação e pânico na população em relação a taxação, e acabou por ser
revogada, é um sintoma dessa falha comunicacional do governo que precisa ser
revista. Soma-se à falta de planejamento na comunicação das políticas a
desinformação e Fake News gerada pelas plataformas digitais. Questão que deve
ser incorporada no planejamento das políticas, calculando riscos e estratégias
de ação.
(*) Professora do
Programa de Pós-Graduação em Educação da Uece e consultora da FGV-RJ.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 24/03/25. Opinião. p.20.
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