sábado, 26 de abril de 2025

Papa Francisco e o olhar para o outro

Por Pe. Francisco Alexandre Alves de Andrade (*)

O que esperar de um papa em tempos de indiferenças, preconceitos, ansiedades e medos? Talvez a pergunta pareça retórica, mas o que o mundo, mesmo aqueles que não são católicos, espera do sucessor de Pedro? O mundo sempre espera que ele seja um sinal, aponte para uma direção, um caminho.

O papa Francisco, como aquele que anuncia a Verdade, revelou-nos que o nosso olhar deveria erguer-se para ver além, muito mais além. Isso não como algo distante ou um ideal vazio, mas uma realidade objetiva: o outro. Mas quem seria esse outro? O evangelho de Mateus 25 nos diz: "Pois tive fome e me destes de comer. Tive sede e me destes de beber. Era forasteiro e me acolhestes. Estive nu e me vestistes, doente e me visitastes, preso e viestes ver-me".

Este olhar para o outro fez-se história. Um dos muitos feitos do pontificado do papa Francisco que ilustram a grandeza e a consciência de sua missão voltada ao outro foi sua visita ao Aiatolá xiita Ali al-Sistani, na periferia da cidade de Najaf, sul do Iraque, em 6 de março de 2021. Enquanto bispo de Roma e sucessor do Apóstolo Pedro, consciente de seu dever apostólico, o papa foi a uma das zonas mais perigosas do mundo, pôs sua vida em risco e se encontrou com a grande autoridade espiritual e política do Iraque (pós-invasão dos EUA) para suplicar em favor da minoria cristã perseguida e das outras minorias religiosas presentes no território iraquiano.

Ele advogou em favor de uma Igreja Mártir e, consciente da universalidade da sua missão, interveio também por homens e mulheres de boa vontade que, mesmo não professando a fé cristã, são amados por Deus. Esta é a eloquência da vida que nada quer para si se não for antes toda para o outro. Não seria esse o caminho para a paz interior e exterior da humanidade? Não seria este o grande testemunho, verdadeiramente revolucionário, que o papa nos deixa?

O olhar de amor e misericórdia para o outro pode salvar a humanidade, pode curar os corações feridos em suas existências, pode nos levar à paz. Assim ensinou-nos Francisco: nada para mim, tudo para o outro. Que o mundo creia nesse testemunho dessa vida.

(*) Sacerdote católico da Arquidiocese de Fortaleza.

Fonte: O Povo, de 23/04/2025. Opinião. p.18.

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