Por Pe.
Francisco
Alexandre Alves de Andrade
(*)
O que esperar de um papa em tempos de
indiferenças, preconceitos, ansiedades e medos? Talvez a pergunta pareça
retórica, mas o que o mundo, mesmo aqueles que não são católicos, espera do
sucessor de Pedro? O mundo sempre espera que ele seja um sinal, aponte para uma
direção, um caminho.
O papa Francisco, como aquele que
anuncia a Verdade, revelou-nos que o nosso olhar deveria erguer-se para ver
além, muito mais além. Isso não como algo distante ou um ideal vazio, mas uma
realidade objetiva: o outro. Mas quem seria esse outro? O evangelho de Mateus
25 nos diz: "Pois tive fome e me destes de comer. Tive sede e me destes de
beber. Era forasteiro e me acolhestes. Estive nu e me vestistes, doente e me
visitastes, preso e viestes ver-me".
Este olhar para o outro fez-se história.
Um dos muitos feitos do pontificado do papa Francisco que ilustram a grandeza e
a consciência de sua missão voltada ao outro foi sua visita ao Aiatolá xiita
Ali al-Sistani, na periferia da cidade de Najaf, sul do Iraque, em 6 de março
de 2021. Enquanto bispo de Roma e sucessor do Apóstolo Pedro, consciente de seu
dever apostólico, o papa foi a uma das zonas mais perigosas do mundo, pôs sua
vida em risco e se encontrou com a grande autoridade espiritual e política do Iraque
(pós-invasão dos EUA) para suplicar em favor da minoria cristã perseguida e das
outras minorias religiosas presentes no território iraquiano.
Ele advogou em favor de uma Igreja
Mártir e, consciente da universalidade da sua missão, interveio também por
homens e mulheres de boa vontade que, mesmo não professando a fé cristã, são
amados por Deus. Esta é a eloquência da vida que nada quer para si se não for
antes toda para o outro. Não seria esse o caminho para a paz interior e
exterior da humanidade? Não seria este o grande testemunho, verdadeiramente
revolucionário, que o papa nos deixa?
O olhar de amor e misericórdia para o
outro pode salvar a humanidade, pode curar os corações feridos em suas
existências, pode nos levar à paz. Assim ensinou-nos Francisco: nada para mim,
tudo para o outro. Que o mundo creia nesse testemunho dessa vida.
(*) Sacerdote católico
da Arquidiocese de Fortaleza.
Fonte: O Povo, de 23/04/2025. Opinião. p.18.
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