quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

A CADA TEMPO O SEU HEROI



Por Ricardo Alcântara (*)
Às vezes, falta faz um debochado que venha a público dar às coisas os termos que elas merecem. Paradoxalmente, são eles, os de menor senso, que dizem a verdade necessária em tempos que desconhecem a medida de sua própria hipocrisia.
Sobre o Brasil, Tim Maia dizia que “tudo é possível em um país onde as prostitutas se apaixonam e os traficantes se viciam”. Agora, sabe-se que este é também o país onde os corruptos se dirigem às celas com a altivez dos perseguidos de opinião.
É ridículo, o esforço de alguns petistas para dar aspecto de missão histórica à crise moral de lideranças que por trinta anos foram a palmatória da nação e, flagrados agora em práticas afins, tentam poupar suas reputações do crivo da realidade.
Ainda que discorde de alguns termos com que foi posta a ação penal do chamado – a meu ver impropriamente – “mensalão”, ali houve um crime que afeta o interesse mais profundo de uma nação que deseja viver sob um padrão ético mais avançado.
Se José Dirceu não cometeu o crime do qual é acusado, cometeu outros, apesar da precariedade das provas idas a juízo, como antes mesmo do “mensalão” já viera à tona no caso de assessor seu, um pilantra juramentado chamado Waldomiro Diniz.
Se o ex-ministro é preso político, minha mãe é uma ema. Não recordo um mártir da resistência democrática que tenha recebido dos porões o “benefício” da tortura em regime semi-aberto com direito a carteira assinada em hotel quatro estrelas.
Se o agá do ‘Zé” atenua a vergonha de parcela menos esclarecida de sua militância, já em grande parte pendurada nos cabides do serviço público, não sensibiliza – ao contrário, desaponta ainda mais – os eleitores comuns de seu próprio partido.
Pesquisa Datafolha divulgada recentemente aponta que nove em cada dez eleitores habituais do próprio PT concordam que há justiça na escolha do novo endereço destinado pelo tribunal aos líderes da sigla preferencial de seus votos.
O entendimento, comum mesmo entre cidadãos identificados com os resultados apresentados por eles no exercício do poder, discrepa do nevoeiro de calculada indignação com que seus áulicos tentam, em vão, turvar a clareza dos fatos.  
Mas não creia que isso agora será motivo de reflexão: continuarão culpando o sofá pelo que acontece na sala, justificando a tudo como “campanha difamatória da imprensa burguesa” – pequena parte da verdade – a serviço de interesses espúrios.
(*) Jornalista e escritor. Publicado In: Pauta Livre.
Pauta Livre é cão sem dono. Se gostou, passe adiante.

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