domingo, 15 de dezembro de 2013

NATAL DO PASSADO E DO PRESENTE



Com a festa do Cristo-Rei, a Igreja Católica encerra o seu ano litúrgico e abre um novo ano, com o período do Advento, que prepara o cristão para a chegada do Menino-Deus, cujo nascimento é celebrado no dia 25 de dezembro, entre os católicos romanos e os nossos irmãos de várias denominações cristãs.
O tempo do Advento corresponde às quatro semanas que precedem o Natal, começando às vésperas do domingo mais próximo do dia 30 de novembro e se estendendo até 24 de dezembro. É um momento para a submersão na liturgia e na mística cristã. É um tempo de esperança e de preparação alegre para a vinda do Senhor, servindo para fortalecer os valores cristãos.
Enquanto uns se preparam, espiritualmente, para o acolhimento ao Menino Jesus, outros observam um período preparatório bem mais longo, iniciado logo após o Dia das Crianças, tendo por fulcro atrair consumidores, animando-os a adquirir produtos de diversas naturezas. As pessoas são incitadas a um consumismo exacerbado, sob os efeitos de publicidades, apregoando a antecipação das compras de artigos, que nada têm a ver com o espírito natalino, mediante convidativas e enganosas parcelas.
Recuando a tempos de outrora, não tão distantes, algo como meros cinquenta anos, as lembranças dos períodos natalinos, na Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, evocam condições bem distintas das que hoje são verificadas.
Era um Natal inteiramente familiar, com desdobramentos na vizinhança e na paróquia do bairro. Nos lares, as mães retiravam do armário os enfeites natalinos e, com ajuda de filhos, montavam a árvore de Natal, quase sempre acompanhada de uma lapinha, na qual um menino recém-nato, mantido em uma manjedoura, era velado por seus pais, sob as vistas dos três Reis Magos e de um séquito de pastores, com suas ovelhas espalhadas no chão, ali representados.
Na grande Noite do Natal, as famílias visitavam as lapinhas da igreja, acompanhavam os autos natalinos e assistiam à Missa do Galo. Em casa, a tradicional ceia, tendo o peru como o prato principal compartilhado por todos, era antecedida por orações, leituras e hinos natalinos. Poderia haver trocas de presentes, como gesto de amabilidade, e as crianças, quase sempre crédulas na estória do “Bom Velhinho”, iam dormir ansiosas e expectantes quanto à surpresa, que teriam ao despertar, trazida pelo Papai Noel.
Os tempos hodiernos são outros para muitas pessoas, em que o Natal é apenas um feriado de final de ano, servindo de pretexto para o congraçamento entre amigos, olvidando, por inteiro, o próprio dono da festa, o aniversariante, o qual em nenhum momento é reverenciado, ou sequer recordado, mesmo en passant, pelos convivas.
É muito difícil remar contra a corrente: um Natal nos moldes do passado, como o que foi retroaludido, não gera quase ganância aos produtores, não incrementa a arrecadação de tributos e não amaina o ímpeto de consumo dos indivíduos.
Diante do impasse, é oportuno rememorar Machado de Assis, o Bruxo do Cosme Velho, que, no último verso de seu célebre “Soneto de Natal”, assim proclamou: “Mudaria o Natal ou mudei eu?”.
Um Feliz Natal para todos: crentes, agnósticos ou descrentes, pois são igualmente filhos de Deus, mesmo que não creiam ou não queiram.
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Integrante da Sociedade Médica São Lucas

* Publicado In: O Povo, de 15 de dezembro de 2013. Caderno Espiritualidade. p. 26.

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