domingo, 23 de agosto de 2015

A VIDA NAS ALTURAS II


Comissárias narram situações inusitadas vividas a bordo

Por Marina Oliveira e Thaís Macena
Ser comissário de voo é tudo de bom, afinal, eles podem viajar para onde quiserem. E de graça! Você já deve ter ouvido alguém dizer isso – ou pode até mesmo ter falado algo parecido. Por conta dessa imagem que se criou em torno da profissão, muitos jovens decidem investir na carreira. Mas só quem trabalha a bordo de um avião sabe que, a exemplo de qualquer outro trabalho, este também é cheio de desafios.
Para começar, os comissários têm que lidar com uma infinidade de pessoas todos os dias, dos mais diferentes perfis. Diante disso, não é de se estranhar que eles tenham muitas histórias para contar. O UOL Viagem conversou com profissionais do ramo e publica aqui algumas dessas aventuras. Os nomes dos entrevistados foram trocados para preservar a identidade deles.

5 Medo de voar
"Estava num voo de São Paulo para Fortaleza quando um rapaz turco foi para o final do avião pedir um copo de água. Ele tinha horror a voar e havia esquecido seu calmante na mala despachada. Como eu era a única mulher na tripulação, ele só teve coragem de conversar comigo. Assim, os outros comissários saíram para realizar o serviço de bordo e eu fiquei cuidando dele. Mas como ele andava muito de um lado para o outro, começou a assustar os outros passageiros, que já estavam comentando. Para piorar, ele começou a reclamar de palpitação e a dizer que estava passando mal. Eu achei que teria que declarar uma emergência ali mesmo. Por sorte, havia um médico a bordo, que falava inglês e que se ofereceu para ajudar. Mais sorte ainda porque era um cardiologista. Ele examinou o outro passageiro e concluiu que os sintomas eram resultado de puro nervosismo. Para ajudar, o médico sugeriu que o turista se sentasse ao lado dele, onde o turco permaneceu tranquilo por mais duas horas de voo."
Ana*, 23 anos, mora no Rio de Janeiro. Foi comissária de voo durante três anos e meio.
 
 
6 Era para ser engraçado?
"Era meu primeiro voo para a Rússia e eu estava empolgada para conhecer o país. Foi então que, alguns minutos após o avião decolar, eu estava preparando o serviço de bordo e um passageiro da poltrona 23K tocou a campainha e me chamou. Fui até ele e perguntei o que desejava. Ele era muito educado e atraente. Me pediu um copo de leite. Eu expliquei que, naquele serviço, não serviríamos leite, mas eu tentaria fazer o possível para conseguir atendê-lo. Fui até a primeira classe, enchi um copo de leite integral e voltei. Quando entreguei o pedido, ele me disse, com um sorriso sarcástico: 'Desculpe, mas eu queria do seu peito'. Sem saber como reagir, eu respirei fundo e disse que não estava mais amamentando."
Cibele*, 24 anos, mora em Dubai. É comissária de voo há quatro anos.
 

7 De cortar o coração
"Estava num voo do Recife para São Paulo, quando notei uma senhora muito triste, com os olhos cheios de lágrimas. Preocupada, me sentei ao lado dela e perguntei se ela viajava sozinha. Em meio a uma crise de choro, ela me contou que estava voltando para casa de uma viagem que havia feito com o marido. Para acalmá-la, eu fui buscar um copo de água. Quando voltei, ela continuou a me contar a sua história. Disse que aquela tinha sido a primeira viagem de avião deles, um presente dos filhos, por ocasião dos 25 anos de casamento dos pais. Só que no segundo dia do passeio o marido havia sofrido um mal súbito, vindo a falecer. O corpo dele estava sendo levado no porão do avião. Segurando as lágrimas para não chorar também, eu fiquei ao lado dela por um bom tempo, todo o tempo que foi possível."
Camila*, 35 anos, mora em Santo André. É comissária de voo há 13 anos.
 
 
8 Viagem em alta tensão
"Eu já estava na terceira viagem do dia, de São Paulo para Brasília. Quando me aproximei do avião, percebi que havia muitos carros de polícia ao redor. Cheguei a pensar que transportaríamos algum político. Mas, quando entrei na aeronave, policiais me revistaram e me explicaram o que estava acontecendo. Na realidade, iríamos levar um preso para depor, além da esposa dele. Ele ficaria algemado, na última fileira, entre dois policiais à paisana. Ela seguiria sem algemas, mas também com duas policiais à paisana, na parte da frente da aeronave. Outros três policiais à paisana, armados, estariam sentados em diferentes partes do avião. Fomos orientados a reportar qualquer atitude estranha dos passageiros a bordo. O voo estava lotado e foi muito tenso para toda a tripulação. Na hora de oferecer a refeição, eu precisei cortar a carne dele antes de entregar, já que ele estava algemado. Por fim, tudo correu bem e os passageiros nem perceberam o que estava acontecendo. Só depois que todos desembarcam é que os policias saíram com o prisioneiro."
Fernanda*, 34 anos, mora em Cotia. Foi comissária de voo por dois anos.
Fonte: Do UOL, em São Paulo, 23/02/2015. Fotos: Getty Images.
 
 
 
 
 

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