segunda-feira, 31 de agosto de 2015

O BRASIL ANEDÓTICO LXXII


O ESTILO DE EUCLIDES
Anedota corrente, confirmada ao colecionador por Olavo Bilac e Coelho Neto.
Conversava-se, uma vez, em um grupo de homens de letras, sobre Euclides da Cunha, que acabava de publicar os Sertões, quando Joaquim Nabuco, que lhe censurava o estilo retorcido, opinou:
- É um grande escritor, concordo.
E num gesto de desagrado:
- É pena que escreva com cipó...

OS HÓSPEDES DE SANTO ANTÔNIO
Ernesto Sena - "Notas de um Repórter", pág. 164.
Católico praticante, verdadeiro frade leigo, o conselheiro Ferreira Viana residia, mesmo quando ministro do Império, em uma cela do convento de Santo Antônio, onde os religiosos o tinham como companheiro. Certa vez, em palestra à mesa, frei João Costa, membro da confraria, começou a enumerar as pessoas que tendo residido naquela casa de Deus, tinham dali saído para ser ministros ou para outros cargos importantes.
- Frei João, frei João, fale baixo! - pediu Ferreira Viana, com ares misteriosos. E olhando em torno:
- Não conte isso lá fora, senão toda essa gente se vem meter aqui no convento!...

RESPEITO À ETIQUETA
J.M. de Macedo - "Ano Biográfico", vol. I, pág. 312.
O dr. Antônio Ferreira França, que foi deputado geral pela Bahia em quatro legislaturas, entre 1823 e 1837, era não só um dos oradores mais espirituosos da Câmara como um dos médicos mais ilustres do seu tempo. Sentindo-se Pedro I doente, ordenou que chamassem o médico baiano, o qual compareceu prontamente.
No correr da visita, o imperial enfermo sentiu sede, e o dr. França, que nada entendia da etiqueta da Corte, encheu um copo dágua, e ia dar-lhe, quando um dos camaristas o deteve, brusco, dizendo-lhe que não lhe cabia aquela honra, que só a ele competia dar água ao Imperador.
O dr. Ferreira desculpou-se quanto pôde e, voltando ao Paço no dia seguinte, sucedeu que estando sozinho com o monarca, este manifestasse desejo de verter água. O "criado-mudo" estava ao alcance da mão, mas o dr. França resolveu vingar-se; correu à porta do quarto, abriu-a, e, as mãos em concha, gritou para o corredor:
- Quem é o do vaso?!... Venha, quem é o do vaso!...

COLEGAS...
Ernesto Sena - "Notas de um Repórter", pág. 185.
Após a sua entrada para a pasta da Fazenda, havia o conselheiro Francisco Belisário Soares de Sousa recorrido, já, três vezes, ao crédito do país no estrangeiro, quando, ao passar um dia pela rua do Ouvidor, ouviu que alguém o saudava, alto:
- Bom dia, sr. Conselheiro, meu amigo e colega!
O ministro voltou-se, e, vendo Paula Ney, de chapéu na mão, numa reverência, correspondeu, atrapalhado, ao cumprimento.
E Ney, logo, com o mesmo sorriso:
- Colega, sim... Porque... V. Excia. Também não vive de empréstimos?
Fonte: Humberto de Campos. O Brasil Anedótico (1927).

Nenhum comentário:

 

Free Blog Counter
Poker Blog