Pedro
Henrique Saraiva Leão (*)
A
contemplação das percucientes (penetrantes) descobertas científicas lembram-me
o dramaturgo (teatrólogo) Shakespeare (+1616), considerado o poeta nacional da
Inglaterra, o “Bardo (poeta) de Avon” (rio de sua cidade Natal), e o
maior dramatista de todos os tempos. Em “Hamlet”, das mais famosas tragédias
(1600 ou 1601) ele sentenciou: “Há mais coisas no céu e na terra, Horatio / Do
que sonhadas na tua filosofia” (“There are more things in heaven and earth, Horatio/ Than
are dreamt of in your philosophy”). Realmente, em Ciência há mais do que veem os olhos.
O século XXI deve representar 20 mil anos de progresso científico na Iatrologia
(Medicina. Do grego “iatrós” – médico).
Tudo
começou com o monge austríaco, também botânico e meteorologista Gregor Johann
Mendel (1822-1884). Estudando ervilhas e outras plantas, no seu mosteiro da
República Tcheca, descobriu os genes, ou gens, os verdadeiros arquitetos da
nossa hereditariedade, do nosso destino. Mendel morreu aos 62 anos como o Pai
da Genética. A palavra “gene” foi criada por outro botânico, dinamarquês,
Wilhem Ludwig Johansen. Para o leitor curiosíssimo (pois os há) registre-se um
sinônimo de gene: “cístron”.
A
estrutura genética se apresenta como sequências de ácidos nucleicos,
especificamente o DNA - ácido desoxirribonucleico -, e o RNA, ou
ribonucleicacid. O primeiro – aquele de dupla hélice – aloja nosso código
genético, enquanto as proteínas são sintetizadas pelo RNA. A descoberta dessas
hélices por Francis Creek (1953), valeu-lhe o prêmio Nobel em 1962, como
salientamos em “Crack, Crik, Krok”, de 24/6/2015. Ali recordamos tal achado ter
sido oniricamente induzido (concebido em sonhos), após o uso de LSD,
alucinógeno apreciado por vários escritores e cientistas daquele tempo. Os
genes controlam nosso metabolismo, e nas mutações em células germinativas
(óvulos e espermatozoides) “vazam” informações para ge(ne)rações futuras.
Denomina-se
“genoma” o conjunto de + 35/40 mil genes que possuímos, em cada célula do
corpo.
Em 1950,
Roger Williams criara o conceito de individualidade genética, comprovando
sermos bioquimicamente distintos, portando tipos de genes (genótipos)
particulares e individuais como as impressões digitais. Explica-se assim a
eventual diferença de resultados entre tratamentos idênticos de pessoas
díspares. Parece não haver doenças, mas doentes. Ratificada fica a adoção de
terapêuticas “sob medida”, “tailorizadas” (do inglês “tailor” = alfaiate), personalizadas, como salientamos em “Medicina
sartorial”, em 26/11/2014. Aludidos conceitos alimentaram o transcendental
Projeto Genoma Humano, criado em 1990 nos EUA, por James D. Watson, envolvendo
mais de 5000 cientistas (inclusive no Brasil), e concluído em 2003.
Esse
magno empreendimento respaldou as primeiras tentativas de terapia genética
humana (1990), sendo hoje empregada em bactérias, plantas e animais.
Conquistou-se uma das últimas fronteiras da Medicina, agora querendo-se mais
eficaz. Saravá! Barak Obama, pelos 100 milhões de dólares para pesquisa em 2014
(revista IstoÉ, 10/4/2013). Tornaram-se exequíveis os painéis genéticos
laboratoriais.
Os
cientistas já debatem a imunoprofilaxia por transferência de gens, e a inversão
do envelhecimento, por reprogramação de células senis (vide “Nanomedicina”, de
17/5/2017).
Já se
disse que o futuro não é mais como antigamente! E entre nós, no “Brasilgate”?
Consoante o dr. Carlos Vital (!), presidente do Conselho Federal de Medicina, “a saúde não é prioridade no Brasil” dos anos recentes (Jornal
Medicina, 9/2014). Aliás, naquele ano eleitoral nossos governos aplicaram
apenas R$ 3,89/dia para a saúde de cada brasileiro. Pasmem!
(*) Professor Emérito da UFC.
Titular das Academias Cearense de Letras, de Medicina e de Médicos Escritores.
Fonte: O Povo, 26/07/2017.
Opinião, p.10.
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