segunda-feira, 7 de agosto de 2017

ONTEM E HOJE NO BRASIL


Por João Soares Neto (*)
Muitos homens, como as crianças, querem uma coisa, mas não as suas consequências. Ortega y Gasset (1883-1955), filósofo espanhol.
“A política vai mal. A gente de Bernardes é de inépcia rara. No Clube Militar escolheram uma comissão, cujos membros têm de declarar autênticas as famosas cartas. Trabalham secretamente como se fossem inquisidores, e os bobos hão de agitar a opinião, declaram-se satisfeitos e esperam passivamente a bomba para protestar depois do estouro. A situação resume-se em duas palavras: bernarda com o rio de lama e dos crocodilos, bernadice com o candidato das alterosas... Tudo quanto for afastar-me do ano de vergonheiras máximas que há de ser o do Centenário me seduz.” O texto é do meu patrono (de letras) João Capistrano de Abreu. Foi escrito em 07 de dezembro de 1921 em carta - Correspondência, Volume 3, pag. 60 - a seu amigo Sombra (Luís Pena Sombra).
São passados quase 96 anos e parece que o Brasil não mudou muito. “A política vai mal”, igual a deste final do mês de julho de 2017. Já se invocavam os militares, como os que hoje acreditam que gente fardada possa resolver as nossas mazelas desde o Império (lembra de Deodoro e o que deu?), pois daqui a um lustro, chegaremos ao segundo Centenário do Brasil independente.
“Os bobos hão de agitar a opinião”, e como se agita, mestre Capistrano. Sei do seu repúdio ao que acontecia na capital do Brasil de então, o Rio de Janeiro. Hoje, a capital é outra, feita por gente das “alterosas”. De forma rápida e cara.
A propósito, houve recentemente rios de lama no interior das Minas Gerais com o rompimento de barragens. Detalhe: uma pequena porção de índios - nada contra eles - que morava por perto da área atingida vive folgazona, pois cada um está recebendo nove salários mínimos por mês. Muito dinheiro para não fazer nada, acredite.
Hoje, historiógrafo Capistrano, há 627 mil funcionários públicos civis ativos no país, perto da metade são do Ministério da Educação, mas, acredite a instrução e o conhecimento do nosso povo, são parcimoniosos. Ainda há muitos analfabetos e alguns outros apenas sabem garatujar o nome.
Vou dizer um número e não sei como traduzi-lo para o ilustre mestre. No ano passado, o Brasil gastou 258 bilhões de reais (a nossa moeda de agora, embora sejamos uma República) com esse amontoado de gente.
Diz a imprensa de hoje, bem diferente do seu tempo em que tudo saía nos jornais, segundo as conveniências. Agora, os jornais são apenas um dos meios de comunicações. Alguns, ainda com conveniências. Há outros meios que foram surgindo e quase todos os viventes dão palpites em quase tudo. Muitos são inconvenientes, outros são inconsequentes. Salvam-se poucos.
Fico triste em dar notícias assim ao senhor. Na verdade, não sei sequer se irá lê-las. A propósito, poderia me dar um sinal de que a eternidade existe?
Do seu afilhado e admirador póstero. João, também.
(*) João Soares Neto é escritor e membro da Academia Cearense de Letras.

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