quinta-feira, 3 de agosto de 2017

O SONHO DO SUS ESTÁ SE TORNANDO UM PESADELO


Lucia Conde de Oliveira

Faltam leitos, trabalhadores, medicamentos. Há longas internações pela espera de procedimentos

O Sistema Único de Saúde (SUS) é o maior sistema público do mundo e 70% da população brasileira dependem dele. Tem o melhor sistema de imunização e é referência em transplante. Entretanto, os governos de Collor até aqui nunca valorizaram o SUS. Como o povo não tem importância para os políticos, o sistema que cuida de sua saúde também não tem.
A crise do sistema é percebida na atenção primária, secundária e terciária. Em qualquer ponto desta grande rede de atenção, o usuário às vezes não encontra trabalhadores, medicamentos e pode encontrar mau atendimento. Se precisar de uma consulta ou exame especializado, algumas vezes fica numa fila virtual, em que não tem noção de quantos também estão na mesma situação e qual a previsão de atendimento. Se precisar de um tratamento hospitalar eletivo, desconhece quantos estão esperando.
Já no atendimento de urgência e emergência, a crise é sentida de forma mais coletiva, pois estão juntos, nos corredores dos hospitais municipais e estaduais. Ali as condições de atendimento são mais desumanas para trabalhadores e principalmente para usuários. Faltam leitos, trabalhadores, medicamentos. Há longas internações pela espera de procedimentos. E ainda, o que muitos não sabem, que, mesmo com o SUS, existe outra ordem de atendimento, a do clientelismo e do favor, que funciona desde a escravidão até o presente.
E os trabalhadores do SUS? São vítimas e algozes. São servidores estatutários, terceirizados, cooperados, recibo por pagamento autônomo (RPA). Muitos usam a crise do sistema, para esconderem suas dores e não enxergarem os usuários. Assim, eles desumanizam os usuários e também perdem sua humanidade.
Essa situação só tende a se agravar depois da EC 95/2016, que congelou os gastos federais por 20 anos. Só congelaram os gastos com as políticas sociais, mas aumentaram os privilégios do judiciário, conservaram os dos parlamentares e o mais grave, as despesas com o pagamento da dívida pública não foram mexidas. Em média, 45% do orçamento público é destinado a esses pagamentos.
Estamos inertes assistindo a tudo isso. Vivemos na ilusão de que não seremos afetados. Se não lutarmos, coletivamente, o grande sonho do SUS para todos, integral e equânime pode tornar-se um pesadelo para a maioria daqueles que necessitam e daqueles que ainda se sentem comprometidos com ele. Precisamos encontrar estratégias de luta para a sua defesa cotidiana.
(*) Professora adjunta da Uece.
Publicado. In: O Povo, Opinião, de 3/8/17. p.10.

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