terça-feira, 20 de agosto de 2019

CRIANÇA BRINCA, ESTUDA E CRESCE



Por José Jackson Coelho Sampaio (*)
As pesquisas sobre saúde e trabalho de criança têm história significativa, métodos e resultados sólidos. Não deveria mais ser objeto de opinião individualista espontânea, como recentemente veio à cena pública, devolvendo-nos ao século XVIII quando ele existia e era socialmente legitimado. Ainda existe, em muitos lugares do mundo e do Brasil, mas, salvo exceções anacrônicas, não é legitimado pela ciência e por setores avançados da sociedade. Analisemos três dimensões:
Político-econômica - Sem infância livre, sujeita ao lúdico e ao educacional, não teremos trabalhador e cidadão competentes. Sem criança na família, no lazer e na escola, não sobrará posto de trabalho para adulto desqualificado e futuras desqualificações estarão sendo incubados. Há transmissão intergeracional das misérias econômica e política.
Biossanitária - O trabalho precoce que, pela sua natureza, tende a acontecer em condições degradantes, determina transtornos desnutricionais (altura e peso insuficientes, defesa imunológica diminuída), musculoesqueléticos (descalcificações, desgastes musculares por peso excessivo à idade, danos à coluna dorsal), neurológicos (perceptomotricidade inadequada para as tarefas, agressões tóxicas, imaturidade) e sistêmicos (envelhecimento precoce).
Psicossanitária - O trabalho precoce impacta sobre estado de ânimo, desenvolvimento de habilidades, assunção de responsabilidades e construção da identidade, tornando possível um grande leque de impedimentos ao desenvolvimento, transtornos neuróticos e transtornos de caráter.
O Grupo de Pesquisa Vida e Trabalho - GPVT, que lidero na Uece, tem produzido sobre o tema e recusamos a expressão "trabalho infantil", que pode ser interpretado, pois a função "infantil" adjetiva "criança", como trabalho próprio de criança. Defendemos "trabalho precoce", aquele exercido antes da idade socialmente adequada de trabalhar. No século XIX era analfabeto quem não sabia ler e escrever um bilhete, além de desconhecer as operações básicas da matemática.
Hoje, precisamos domínio maior da língua materna, comunicação em língua internacional e na língua da comunicação eletrônica. Além da matemática básica, a estatística funcional. Trabalho de criança é brincar, estudar e crescer, mental e fisicamente, para o exercício pleno e crítico da cidadania.
(*) Professor titular de Saúde Coletiva e Reitor da Uece.
Fonte: Publicado In: O Povo, Opinião, de 31/7/19. p.25.

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