Por Luiz Gonzaga Fonseca
Mota (*)
Pedro e Catarina estavam
casados há 12 anos. Formavam um casal exemplar. Cumpriam rigorosamente o que
foi estabelecido, perante o vigário, no dia do casamento. Moravam numa cidade
do Vale do Jequitinhonha em Minas Gerais e possuíam dois filhos, Manuel e
Teresa, respectivamente, com 10 e 6 anos. Pedro entrou na política, apesar das
restrições de Catarina, pois tinha receio que a sortida mercearia que eles
possuíam pudesse sofrer consequências desfavoráveis e passar a dar prejuízos,
até mesmo fechar as portas. No entanto, não deu ouvidos à mulher e foi vereador
e depois prefeito municipal. Os negócios, como previa a esposa, passaram a ser
deficitários. Com isso, além dos graves problemas políticos, Pedro perdeu seu
patrimônio. Começou a beber de forma exagerada e a frequentar “casas
suspeitas”. Certo dia, ao retornar da boemia, Catarina percebeu uma mancha de
“batton” na camisa de Pedro. Danou-se. Talvez tenha sido a primeira grande
discussão entre o casal. Ela disse para ele que só acreditaria na sua versão se
chamassem o bom vigário, amigo do casal, e Pedro recebesse a comunhão. Catarina
era muito religiosa. Chegou o padre para dar a comunhão ao perplexo Pedro.
Falou ao padre que não conseguiria vez que não queria cometer sacrilégio. O bom
vigário, desejando que a paz voltasse ao lar, disse baixinho no ouvido de
Pedro: “seu mentiroso e traidor, as hóstias não estão consagradas, mas amanhã
bem cedo compareça à Matriz para se confessar e comungar com dignidade”.
Catarina se conformou e Pedro atendeu, com vergonha e cabisbaixo, à
determinação do pacificador e bom vigário. O casal passou a ter uma vida mais
modesta, com poucos recursos, porém Pedro ficou longe da bebida e das farras.
Ele concluiu que os prazeres humanos são passageiros e ilusórios. Assim é a
vida. “Qualquer semelhança é mera
coincidência”.
(*) Economista. Professor aposentado da UFC. Ex-governador do
Ceará.
Fonte: Diário
do Nordeste, Ideias. 23/8/2019.
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