Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
Honra é o princípio de conduta de
pessoa que se comporta de modo virtuoso, corajoso, honesto; cujas qualidades
são consideradas socialmente virtuosas. O seu antagônico é empregar meios
ilícitos visando obter vantagem. A conduta honrosa permite o surgimento da
confiança entre os Homens.
Devo dizer que a honra de um cidadão
ou político é perdida por um único deslize. É o que indica a expressão inglesa
“character”, que significa renome, reputação, honra ou estilo. Ademais, a perda
da honra é irreversível, a menos que se deva a calúnia ou a falsas aparências.
Para isso existe a Lei para punir, com duras penas, a injúria e a calúnia.
A pessoa que ocupa um cargo público (Político)
deverá ser dotada de honra civil e de honra pública, além da capacidade de
exercê-las, isto é, desempenhar as funções inerentes a cargo, trabalho,
ofício. Situação que deve ocorrer em observância a outros princípios da
regra ou norma moral.
A honra civil baseia-se na
pressuposição do respeito incondicional ao direito de cada um. Ela é o
condicionante de todo e qualquer contato disciplinador entre os Homens. Muito
embora Jean-Jacques Rousseau (1712- 1778) ter dito que as pessoas, cada vez
mais conscientes do olhar do próximo, moldam seu comportamento em função desse
vínculo, aprendendo a viver mais para a vida alheia do que para si.
Essa deturpação leva a uma corrupção
generalizada.
Apreciaria esclarecer a existência
de variados subgrupos da honra, mas antes apreciaria compará-la a um dos seus
sinônimos — glória (fausto, grandeza, homenagem, exaltação, fama, esplendor).
Mas é preciso ter em mente que a verdadeira glória deve ser conquistada sem que
a honra seja ferida.
Voltando às várias expressões da
honra, ela apresenta e corresponde a diferentes modelos como já mencionei:
primeiro a civil e seguem-se a honra do cargo ocupado e até a honra sexual,
englobando as subordens devidas pelos servidores estatais, médicos, advogados,
em suma todos aqueles que foram qualificados para exercer determinado tipo de
trabalho intelectual ou profissional.
Quando um ser humano se candidata a
um cargo político, tem de ter/ver/saber que deverá manter a sua honra de forma
diferente da honra de um simples cidadão, pois deve também ter a competência
para exercê-lo com proficiência muito além da honra civil.
O que desejo dizer é que a honra de
um cidadão comum pertence exclusivamente à esfera particular, enquanto que a de
um político ultrapassa esse nível, pois passa a compreender o povo em
geral: interesse público.
Um político não pode aceitar
acusações quanto a não cumprir com probidade os deveres do cargo que
ocupa. Quanto mais influente for a função que ele exerça numa organização
pública, tanto mais deve ser possuidor de capacidade intelectual e as
qualidades morais que façam dele uma pessoa apta a ocupar tal função e ainda
ser capaz e – principalmente – honesto. Sempre. Ou então damos aceitação a
Arthur Schopenhauer (1788-1860) quando diz:
— A
honra é, objetivamente, a opinião dos outros acerca do nosso valor, e,
subjetivamente, o nosso medo dessa opinião.
Parece-me que no Brasil de hoje há
uma falta generalizada desse atributo que desconfiávamos não existir, porém a
desonra jamais foi escancarada como na situação que estamos vivendo. Os
ocupantes de cargos públicos deveriam saber que a honra e sua prática não
depende da idade e muito menos da origem do ocupante do cargo. Se jovem e
ocupante de cargo público, não podemos tolerar desonestidade pelo que ele
promete ser ou o argumento de que ainda não foi testado, é inexperiente.
Quem é inexperiente não pode exercer
funções de mando. Caso for experiente, se tem noção, tem prática, tem
conhecimento das coisas e tem cabelos brancos, isso não o isenta da honra. É
bom lembrar que rugas também são sinais de velhice e não despertam sinais de
respeito: nunca se fala de rugas veneráveis, mas sim de cabelos brancos
veneráveis.
Nunca esquecer que aqueles que
ocupam cargos públicos (seja por nomeação, concurso, eleição, pouco importa),
além da capacidade para exercer a função devem ser pessoas honradas em primeiro
lugar, além de dotados de competência.
Lembro que a honestidade de quem ocupa um cargo público, por menor ou
maior que seja ele, garante nossa segurança como país, estado, nação, município
e Sociedade, mormente no trato da: “Res publica”, uma expressão latina que significa
literalmente “coisa do povo”, “interesse público”. É a origem da palavra república. E o
político/administrador público, após deixar o cargo, deve permanecer respeitado
por seus sucessores. Não é isso que estou assistindo!
Portanto, preocupado estou.
Preocupado, de todo coração, com o futuro e com a felicidade do meu povo, muito
embora não deixe de ser esperançoso por dias melhores.
(*) Professor Titular da Pediatria
da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União
Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos
(ABRAMES). Consultante
Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).
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