quarta-feira, 28 de agosto de 2019

CAIO PORFÍRIO CARNEIRO

Desde 1955 Caio estava radicado na capital paulista, onde foi por muitos anos secretário da UBE
Foi em um telefonema que o escritor Pedro Salgueiro me informou sobre o falecimento do contista, romancista e memorialista Caio Porfírio Carneiro, nosso amigo. Nascido em 1º de julho de 1928, morrera ele em São Paulo, no dia 17 de julho deste ano de 2017. Desde 1955 estava radicado na capital paulista, onde foi por muitos anos secretário da UBE.
Foi o escritor Edmílson Caminha, cearense residente em Brasília, quem deu a notícia a Pedro Salgueiro. Ele e Caio se tratavam por primos pelo fato de os avós de ambos serem primos de Adolfo Caminha.
No periódico O TREM de Itabira, MG, publicou Edmílson o artigo “A Viagem Derradeira de Caio Porfírio Carneiro”, no qual diz, falando do conterrâneo: “Por mais de meio século, protagonizou uma luminosa carreira literária, desde o lançamento, em 1961, de Trapiá, volume que logo o inscreveu na mais representativa linhagem brasileira do conto”.
É vasta a bibliografia do escritor, com mais de vinte livros, a maioria de contos. Com o pouco espaço de que disponho, comento rapidamente o livro Perfis de Memoráveis (autores brasileiros que não alcançaram o terceiro milênio), de 2002. Nele fala de 60 escritores, sendo vários cearenses. Cito apenas dois, com os quais convivi, Edigar de Alencar, residente no Rio de Janeiro, e Raimundo de Menezes, radicado em São Paulo.
Incrível como, com poucas palavras, Caio fazia retratos perfeitos. Falando do Edigar, escreveu: “Tipo mediano, ar vivo, conversador, alegre. Dizia-me: ‘–Todos os dias ando no calçadão de Copacabana. Ando quilômetros. Mas não ando devagar. Ando assim... Quer ver?’ E dava alguns passos ligeiros para lá e para cá.” Aí está o Edigar que eu conheci.
Raimundo de Menezes, autor de várias biografias, está fisicamente inteiro nestas palavras: “O Raimundo, que os mais íntimos chamavam de Raimundão, era um tipo robusto, corado, cara redonda, mediano de altura. Parecia um burocrata por trás dos óculos e dos gestos calmos.” Perfeito o retrato desse outro amigo meu.
Ultimamente escrevia contos cada vez mais breves. Do opúsculo Respingos de uma viagem (2008), transcrevo este, que nem é o mais curto e se intitula “Viagem”:
“Viajo hoje. Se a vida, em si, é uma viagem, por que vou viajar? Que filosofia mais besta... Até os crentes falam que a vida é uma viagem, uma passagem rápida pela Terra.
“O que importa é que hoje viajo. À tarde. Devo chegar à noite.
“Quando volto?
“Bem...”
(*) Doutor em Letras pela UFRJ; membro da Academia Cearense de Letras (ACL)
Fonte: Publicado In: O Povo, de 22/08/2017. Opinião. p.11.

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