Osmilton Avelino, natural
de Sousa-PB, e seus contos inverossímeis. Tinha um irmão extremamente pão duro
que passou ordem na mulher para, de manhã, no café, só servir o cuscuz pra
filhada quando a massa esfriasse. A mulher retrucou:
- Quentinho é o ideal,
aprendi com mãe!
- Cuscuz frio aqui, não!
- Por quê, seu porqueira!
- Quente, gasta-se muita
margarina!
Dona Aldiza, mãe dele, foi
procurada pela vizinha Maria Cebola para fins de decifração de um sonho. Fazia
companhia à senhora genitora de Osmilton, naquele instante, o doidinho Zé de
Jota. A vizinha explana.
- No sono, duas aves
voavam mansamente; o vento emanado das asas dos bichos promovia agradável
brisa.
- Não sou entendida de
sonhos, Maria, mas, se eram aves, pode dar águia, avestruz...
- Ou jacaré! - interrompeu
do nada o mental Zé de Jota.
O pai Zé Avelino do
Osmilton adoecera grave. O resultado dos exames, nas mãos do filho querido, não
deixava dúvidas. E o pior: a confirmação do médico de que o velho teria pouco
tempo de vida. Até então, ninguém sabia da novidade. Como dar a triste notícia?
Todos reunidos na sala e Osmilton, emocionado, se enche de coragem e fala.
- Família! Tenham força
nesse instante doloroso. O que tenho a dizer é demais angustiante: papai só tem
três meses de vida!
E o chororô abunda no
ambiente. Uns caindo pro lado, outros tantos à direita. Contudo, tia Maria,
ruim das oiças e sempre muito sincera...
- Se preocupem não! Três
mês passa bem ligerim!!!
Um primo do dito Osmilton,
fraco das feições (feio) que morava em São Paulo, manda carta pra namorada e
conta que, muito em breve, está em Sousa pra se casarem. "Vamos viver um
amor platônico!" - escreveu o matuto.
Mas, que diabo é o
"amor platônico" que os dois viverão? Metade da cidade não sabia; a
outra também. O jeito era perguntar à tia Maria, aquela "ruim das oiças e
sempre muito sincera". Com muito jeito a noiva busca tirar a dúvida.
- Tia, a senhora é a
derradeira pessoa que busca saber...
- O que, cunhã?
- Que "amor
platônico" é esse que meu noivo diz que viverá comigo, quando a gente se
casar?
- Saber assim na exata
prosopopeia, eu não sei... Mas, por via das dúvidas, já vá buscar ele na
rodoviária sem calcinha, viu?
Enquanto cozinha o galo
Estava doentinho, mas
ainda consciente, se rindo das coisas, apesar da hemorroida. Aos 92 anos,
Erivaldo passara já por todas as experiências. 12 filhos, 51 netos, 16 bisnetos
e oito 'cacaraneto'. Escapou da próstata, do coração, da erisipela, da mordida
do cachorro doido, do SPC. Presentemente, tosse braba, remela e diarreia. A
mulher, sabedora do marido a fundo (a fundo!), pede à filha cuidadora, algo
desatenta:
- Aproveite e leve seu pai
ao doutor enquanto ele está sentado!
Fonte:
O POVO, de 27/7/2018. Coluna “Aos Vivos”, de Tarcísio Matos. p.2.
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