sexta-feira, 2 de agosto de 2019

PSICOSSOMÁTICA E DATILOGRAFIA


Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
A psicossomática é uma ciência interdisciplinar que gera diversas especialidades da Medicina e da Psicologia, para estudar os efeitos de fatores sociais e psicológicos sobre processos orgânicos do corpo e sobre o bem-estar das pessoas. O termo também pode ser compreendido, tal como descreve Júlio de Mello Filho, como "uma ideologia sobre a saúde, o adoecer e sobre as práticas de saúde... é um campo de pesquisas sobre estes fatos e, ao mesmo tempo, uma prática, a prática de uma medicina integral”. Essa foi o que entendia no meu tempo sobre o que era psicossomática em que as modificações eram bem mais lentas e agora no curto espaço de tempo, quem nasceu no ano 1960, nem sexagenário é, pois falta apenas 2 anos para entrar nos sessenta.
As modificações corporais (somáticas) e psíquicas no contemporâneo, pós-moderno, mundo líquido como deseja, com razão, o sociólogo Zigmunt Bauman (1925-2017) e entre nós o filósofo Luiz Felipe Pondé escreve:
(“homem aparentando 60 anos, mas com corpo e disposição de 40 corre no Ibirapuera ao lado de uma gostosa de 25“, e onde o aborto será “banal como tomar vitaminas e vacinas”) na sua crônica 28/01/18(Folha de São Paulo) intitulada: O relojoeiro cego. Podem ler se desejar acessando: (http://www1.folha.uol.com.br/colunas/luizfelipeponde/2013/02/1225208-relojoeiro-cego.shtml).
Quando estudava no curso primário aprendi que o Brasil é um país predominantemente agrícola e agora (2018) o Google me diz que 85% da população brasileira vive nas cidades.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (2017), indica que o Brasil tem 207,7 milhões de habitantes. E por aí vai e vão as mudanças líquidas, gasosas ou sólidas...
Agora a expectativa de vida é de 80 anos. Beneficiários de uma medicina por fim eficaz no que diz aos medicamentos antálgicos (que protege contra dor; que age no combate da dor), os analgésicos e anestésicos, sofremos menos que nossos antepassados ainda nominados e muitos ainda vivos: avós e bisavós.
Não possuímos mais o mesmo corpo. Somos malhados nas academias. Tivemos os nascimentos nossos ou dos nossos filhos programados. A alimentação mudou. As doenças infecciosas passaram a ser tão raras que a definição de epidemia modificou, passando de ser ou dizer respeito das doenças infecciosas, não exclusivamente. Atualmente falam de epidemia de depressão e pânico.
As pessoas são formatadas pela mídia e pouca ou nenhuma pelos colégios ou universidades. Desde criança ou jovens ficamos acostumados, antes, pela TV e mais recentemente pelos IPhone. Estamos esgotados de assistirmos às mortes, assassinatos, tragédias, que um velho ou velha da geração passada, mesmo nas acontecidas guerras, viram ou assistiram. Aliás no Ocidente nunca tivemos sessenta anos. Tanto tempo ser guerra.
Acostumados a um mudo virtual e tendo os neurônios ativados pelos dispositivos eletrônicos, não somos os mesmos que da geração dos nossos avós e como se tem filho, agora, muito mais tarde, os pais que foram educados nos livros e no quadro negro e não na telinha estão ultrapassados neuro-psiquicamente. E falam a linguagem da Internet com sotaque.
Seu aparelho psíquico nem sintetiza, não conhece, nem integraliza mais o raciocínio como alguns de nós sobreviventes das gerações anteriores ainda não morreram, agora estão incapazes de acompanhar. Digo 1960 antes, para não ofender, as senhoras quase sexagenárias que desejam competir com a filha e até parecem maquilar ou pintar e disfarçar a velhice.
É quando me volta a memória o tempo da minha infância que quando perguntava que idade a senhora tem? As educadas me respondiam:— Sou do tempo em que a boa educação não se permitia perguntar a idade de uma senhora. Mas, sem esta gracinha muita antiga o que que tem a Psicossomática com isto tudo?
O corpo mudou, a maneira de pensar também, o nascimento e a morte mudaram. Assim como o sofrimento e o processo de cura, mudaram. As profissões mudaram, o espaço, os hábitos, os habitats também, e como se está no mundo, também.  Passou a ser um problema técnico e a Medicina, também. O que vejo agora, é o que os astrônomos dizem: a luz de muitas estrelas que brilham no firmamento e nos encanta já morreram há muito tempo.
Perante tantas transformações tenho que pensar novidades inimagináveis por vir chegar, e aquelas que ainda moldam o nosso comportamento, nossas maneiras de ser nessa Sociedade do espetáculo, do consumo e do narcisismo vai recorrer mais aos algoritmos... novo “Moloch” do momento.
A frustração é ter pensado que a Psicossomática seria a Medicina do futuro. Ficou tão fora de moda como meu diploma de formado em datilografia? Será?????
Nossas dúvidas são traidoras/ E nos fazem perder o que com frequência podemos ganhar/Por simples medo de arriscar. Shakespeare (1564-1616).
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES). Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).

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