Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
… O físico espanhol
Alfons Cornella é o criador do neologismo: infoxicação. A palavra sintetiza o
excesso de informação que atualmente envolve grande parte da sociedade mundial …
Hoje, agora, nesse momento, enfrentamos múltiplas histerias simultâneas. A mais
recente é a do COVID-19, mais conhecido como coronavírus. Além da China, onde o
vírus teve origem, grandes cidades da Itália e Japão estão em quarentena e
muitos países já fecharam suas escolas, cinemas, trabalho, até manifestações
políticas foram afetadas. No Brasil, medidas de confinamento são cada vez
mais intensas.
Saímos de uma
histeria e entramos em outra? Juro que não saberia responder se o pior
é a avalanche de informação, os abalos econômicos ou um micro-organismo
batizado recentemente de novo coronavírus ou COVID-19.
Nada tão antigo
quanto o medo. O pior dos medos, por ser ancestral, é o das pandemias. Apesar
de considerar as pragas do Egito Antigo e tantas outras descritas no Velho
Testamento, prefiro saltar no tempo e começar pela época do Renascimento, com o
De Cameron de Giovanni Boccaccio e com suas
novelas, escritas entre 1348 e 1353.
Relata esse
autor a tragédia vivenciada pela população da Europa e as mortes causadas pela
pandemia de peste bubônica – a denominada peste-negra – que, de 1347 a 1350,
dizimou mais de uma terça parte da população daquele continente.
Por sinal, a
História das pandemias oferece um grande instrumento para o registro das
desditas que assolaram a humanidade ao longo dos tempos. Alguns denominam esse
intenso temor por falta ou – como no caso do vírus atual – excesso de
informação verdadeira ou não, que serve como instrumento para açodar, acelerar,
apressar o “medo/memória ancestral” ao oculto e o apavorante temor à chegada de
uma pandemia.
Nesta
oportunidade gostaria de sublinhar o que é tecnicamente uma pandemia. Pandemia
(do grego pandemía): doença epidêmica amplamente difundida. Epidemia
seria então uma doença geralmente infecciosa que ataca simultaneamente um
grande número de pessoas de determinada localidade, enquanto a pandemia atinge
muitas localidades. A epidemia/pandemia é transitória na maioria das vezes,
porém transmissível ou contagiosa.
Gostaria de,
sem ser Epidemiologista ou Virologista e muito menos Ecônomo, de querer saber,
o que não é pecado.
Embora não
saberia dizer o motivo, alguns dos aspectos dessa volumosa informação de temor,
pânico, histeria, não se assemelham ao estouro de uma boiada, mas fazem lembrar
os textos magistrais de Euclides da Cunha e de Rui Barbosa, admiráveis textos
escritos muito antes do aparecimento das mídias sociais e de suas redes que
aprisionam o indivíduo no mundo virtual, desprezando que vivemos no mundo real.
O resultado aí está, medidas que visam encurralar a realidade, com os
consequentes desarranjos socioeconômicos e certamente trazendo sofrimentos
legítimos nas pessoas, sobretudo aos mais idosos, sem esquecer as gestantes e
os portadores de comorbidade tão comum na maioria populacional acima dos 65
anos. Isso tudo fragiliza, mais agora, os avós que se fazem necessários para
nos ajudarem a enfrentar as contemporâneas mudanças da família nesta
modernidade líquida. Para não falar naqueles que possuem uma desordem no
sistema imunológico como diabetes, cardiopatias, velhice, etc.
Esta situação
leva ao que se denomina Histeria Coletiva, também
conhecida por histeria em massa, fenômeno sociopsicológico definido pela
manifestação dos mesmos ou semelhantes sintomas histéricos por mais de uma
pessoa. Uma manifestação comum de histeria coletiva ocorre quando um grupo de
pessoas acredita que sofre de uma doença ou padecimento semelhante.
O físico espanhol
Alfons Cornella é o criador do neologismo: infoxicação. A palavra sintetiza o excesso de
informação que atualmente envolve grande parte da sociedade mundial.
(*) Professor Titular da Pediatria
da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União
Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos
(ABRAMES). Consultante
Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).
Nenhum comentário:
Postar um comentário