quarta-feira, 6 de maio de 2020

O “PIBINHO” DENTRO DO ESPERADO


Lauro Chaves Neto (*)
O desempenho do PIB de 1,1% em 2019, na mesma faixa dos de 2018 e 2017, não trouxe nenhuma novidade em relação às expectativas existentes desde o final do ano passado. No quarto trimestre, houve um avanço de 0,5% em relação ao trimestre anterior e de 1,7% sobre o mesmo período de 2018. O PIB per capita ficou em R$ 34.533, com elevação anual de apenas 0,3%.
A desaceleração na taxa de crescimento pode ser explicada pelo menor crescimento do consumo das famílias e dos investimentos, aliado à perda nas exportações e à queda no consumo do governo. Turbulências externas como a guerra comercial entre China e EUA, além da crise na Argentina, e fatores internos como a instabilidade política e o ritmo das privatizações e das reformas, foram fatores determinantes.
Uma economia que cresce lentamente, sustentada por um crescente e caro endividamento das famílias, sem uma retomada consistente do nível de investimentos, públicos e privados, terá um ritmo lento e estará fragilizada diante de qualquer choque interno ou externo.
Responsável por aproximadamente 65% do PIB, o consumo das famílias foi impulsionado pelo aumento do crédito, enquanto os rendimentos e a produtividade do trabalho ficavam estagnados, dificultando um maior ritmo de recuperação da economia que, para se tornar realidade, precisaria se sustentar em um maior nível de investimentos das empresas industriais e comerciais, uma vez que o Governo deve permanecer restringindo o gasto público em sua política fiscal.
Acrescente-se que o Brasil não soube aproveitar o bônus demográfico, quando o crescimento da população ativa (15 a 64 anos) é maior que o aumento populacional, fenômeno que terminou em 2018. Sem ele, o Brasil terá menos condições de elevar a sua produtividade.
As expectativas para 2020 viraram uma incógnita em tempos de coronavírus e a indefinição sobre o seu impacto na economia, a questão é saber se o incremento do consumo financiado por crédito e, consequentemente, mais endividamento, resultará em demanda suficiente para reduzir a capacidade ociosa e motivar novos investimentos na indústria e no comércio. 
(*) Consultor, professor doutor da Uece e conselheiro do Conselho Federal de Economia.
Fonte: O Povo, de 16/3/20. Opinião. p.20.

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