Por Artur Bruno (*)
Margear o rio foi,
ainda nos primórdios do século XVIII, uma das principais prerrogativas das
ordenações régias quando das primeiras ocupações das terras cearenses. Os
vaqueiros, tangerinos, sesmeiros, proprietários de terras e das fazendas de
gado, representantes do Estado português se estabeleceram às margens dos rios,
onde o mínimo de pastagem para as boiadas era possível.
A capital não
fugiu à regra. O Pajeú é historicamente o rio no entorno do qual se assentou a
cidade. Infelizmente, em volta do riacho hoje poluído, restam poucas áreas
verdes de margem, uma delas próxima à sede da Prefeitura, no Centro. Nossa
cidade, ocupada de forma desordenada, não contribuiu para a preservação de seus
mananciais. Dezenas de lagoas, por exemplo, foram aterradas.
Mesmo assim, a
vegetação de Fortaleza é tipicamente litorânea com áreas de mangue e restinga.
As áreas de restinga encontram-se nas proximidades das dunas da cidade e perto
da foz dos rios Ceará, Cocó e Pacoti. Nos leitos destes rios a mata
predominante é a de mangue. Estas matas estão protegidas por lei e parte delas
constituem-se na maior área verde da cidade, o Parque Estadual do Cocó, com
1.580 ha, regulamentado pelo governador Camilo Santana em 2018, fundamental
para preservação do rio Cocó. Seguindo a tendência, o prefeito Roberto Cláudio
regulamentou o Parque Rachel de Queiroz, com 203 ha, beneficiando 14 bairros da
Zona Oeste e ajudando a preservar riachos e áreas alagadas.
A capital é uma
cidade fincada entre rios. O rio Cocó e seu leito formam a maior área de mangue
de Fortaleza, cidade que absorve 2/3 da sua bacia hidrográfica. Por sua vez, o
rio Ceará, que desemboca na praia da Barra, marca a divisa com o município de
Caucaia. O rio Pacoti faz a divisa de Fortaleza com Aquiraz. As suas margens,
com seus manguezais, formam hoje a Área de Proteção Ambiental (APA) do rio
Pacoti. Vale citar também o Maranguapinho, maior afluente do rio Ceará, e o rio
Coaçu, afluente do Cocó, que separa Fortaleza do Eusébio, cujo leito ajuda a
formar a lagoa de Precabura.
No aniversário de
Fortaleza é bom lembrar da riqueza dos nossos rios, de forma a incentivar o
sentimento de preservação na comunidade. Enquanto outras cidades do mundo têm
rios mortos, a capital cearense ainda tem chance de recuperar seus recursos
hídricos, através da limpeza, reflorestamento e recuperação de suas matas
ciliares.
(*) Secretário do
Meio Ambiente e Sustentabilidade (SEMA) do Estado do Ceará. Sócio do Instituto
do Ceará.
Fonte: Publicado In: O Povo, Opinião, de 13/4/20. p.16.
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