quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

TERCEIRA(S) ONDA(S)

Por Sofia Lerche Vieira (*)

Quando a Covid-19 começou a varrer o mundo, em março de 2020, a humanidade não tinha noção de que a convivência com o vírus seria tão sofrida e extensa.

O ano de 2022 começou com a chegada de uma terceira onda que, devido a seu alto poder de propagação, configurou-se como novo desafio a enfrentar. Identificada na África do Sul, a variante Ômicron surge em um contexto de exaustão dos profissionais de saúde e de sobrecarga das redes hospitalares, devido à intensiva demanda e oferta de serviços. O que fazer se os hospitais voltarem a ter superlotação, motivada sobretudo pela parcela da população não vacinada?

O processo de vacinação no Brasil sofreu tropeços iniciais e constantes ameaças por parte de algumas autoridades públicas. A cultura de vacinação e o Sistema Único de Saúde, contudo, viabilizaram um percentual razoável de adultos vacinados. Agora, começam a ser vacinadas crianças de 5 a 11 anos.

A pergunta que merece ser feita é: o que virá depois? Ao refletir sobre o tema, não deixa de ser tentador lembrar que a expressão terceira onda foi antes utilizada por Alvin Toffler, autor dos anos oitenta do século XX, best-seller no campo de previsões sobre o futuro da humanidade.

Reconhecendo a existência de três ondas, o mesmo associava a primeira à revolução agrícola, a segunda à revolução industrial e a terceira à era da informação. Nessa terceira onda, o capital essencial da humanidade seria a mente, a capacidade de inovação e o uso da tecnologia.

Algumas das previsões de Toffler foram confirmadas e aprofundadas por outros. Um deles foi Manuel Castells, cientista político espanhol que, na obra A Era da Informação, publicada entre 1996 e 1998, apresenta alguns argumentos na mesma direção. Embora mais recentemente outros pensadores tenham se debruçado sobre o tema, grandes dúvidas sobre o futuro do planeta persistem.

Afinal, por que, apesar de tantos avanços, as economias dominantes mundiais não foram capazes de prever a chegada e o grau de destruição provocada pela Covid-19? Por que não foi possível deter as ondas da pandemia? São perguntas que pedem respostas.

(*) Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Uece e consultora da FGV-RJ.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 31/01/22. Opinião, p.20.

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