terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

OS RISCOS DA INFLAÇÃO!

Por Lauro Chaves Neto (*)

O processo inflacionário atual, tanto no Brasil como mundo afora, tem sido tratado, pelas autoridades monetárias e pela maior parte dos analistas econômicos, como um fenômeno transitório. Defendem que os preços dos serviços tendem a recuar após o consumo reprimido, como consequência da pandemia e das suas respectivas medidas de combate, choques de oferta, como a desestruturação das cadeias produtivas e de logística, alta das commodities, especialmente alimentos e petróleo, entre outros.

A sociedade brasileira está sentindo no bolso os efeitos da inflação, EUA, Alemanha, Japão e até a China são outros exemplos de países afetados por esse movimento que toma proporções globais. A grande questão que deve ser debatida é na hipótese do comportamento ascendente da inflação se tornar persistente e não transitório, estariam as autoridades monetárias e fiscais dispostas a usar as ferramentas necessárias e na intensidade adequada?

Se os agentes econômicos mantiverem as expectativas de que a inflação continuará com comportamento crescente e persistente, suas decisões serão afetadas. Aqueles que se encontram fora do mercado de trabalho, desempregados e desalentados, passarão a aceitar oportunidades de subempregos e precarização, as famílias que conseguiram manter suas rendas vão antecipar o consumo de bens essenciais para fugir da elevação dos preços e vão restringir ainda mais o consumo de algum bem ou serviço não essencial, as empresas vão antecipar reajustes para tentar defender suas já achatadas margens e investidores fugirão de ativos nominais.

Antigamente, os Banco Centrais tinham o papel principal, e as vezes quase único, de zelar pela estabilidade na economia, hoje, a exemplo do Banco Central Europeu, existem outros objetivos como os relativos a mudança climática, a sustentabilidade e as desigualdades no mercado de trabalho.

O controle do processo inflacionário tenderá a ter mais sucesso quanto maior for a credibilidade das autoridades monetária e fiscal, a estabilidade obtida após o Plano Real foi condição necessária, porém não suficiente, para o ciclo de desenvolvimento que o Brasil teve nos 16 anos de FHC e de Lula. Várias políticas públicas foram exitosas, mas, se tivesse permanecido um cenário de inflação elevada, com períodos de hiperinflação, provavelmente os resultados teriam sido outros.

(*) Consultor, professor doutor da Uece e conselheiro do Conselho Federal de Economia.

Fonte: O Povo, de 13/12/21. Opinião. p.20.

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