sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

Crônica: “Caçando peba em Estocolmo” ... e outros causos

Caçando peba em Estocolmo

Cristóvia (nascida do "milagre" de Deus num dia de São Cristóvão) mora na Suécia há 12 anos. Arranhava o idioma, vivia bem. Casada com rico engenheiro do país nórdico que conhecera em Fortaleza, fizera boas amizades. Num período de férias, veio ver os pais, na Irauçuba, acompanhada da cunhada, lourona que era uma 70. Seu Gildo, genitor da "cearopeia", empolgado com as ilustres presenças, abre o converseiro.

- E a bodega onde tu compra banha de porco é perto de casa, fía?

- Pai! A Suécia é um país altamente desenvolvido, de forte economia! Tem isso não!

- Cachorro, bebim e doido de mêi de rua, nem pensar, então!

- Nem, nem, pai! População tem qualidade de vida elevada!

- Um forrozim, uma mão de vaia nos abestado, quede?

Seu Gildo o tempo todo se abrindo, começa a se invocar com um lugar que, na mente dele, "não tem mocó num pé de serra, casa de farinha, rezadeira tirando isprito com pinhão roxo..."

- Aposto como lá não se vê um velório puxado a cachaça!

- Pai, a Suécia é uma nação escandinava! Es-can-di-na-va!

- E nada é a mesma coisa! Pelo visto, um roçado de mandioca é 'impussíve'!

- Mas tem milhares de ilhas costeiras!

- Pescar de tarrafa uma cumatã e tomar um banho de biqueira... Hein?

- Mas tem vastas florestas boreais, montanhas glaciais...

Pela primeira vez na história, alguém chamou a Suécia de país caldo de bila.

- Muito é peba! Dô meia Irauçuba por cinco Suécia dessas e num quero troco!

"Black o que, hômi?!?"

Sofria de uma gastura medonha no pé, seu João Cabôco. Tinha usado já de um tudo e nada de aquilo sarar. A neta, atendente de clínica popular, anuncia a chegada, nas Farmácias XYZ, de um emplastro milagroso vindo de São Paulo.

- Mas, na black Friday, vô, fica bem baratinho!

- Adonde é isso?

- Na black Friday, um dia do ano em que toda qualidade de compra é mais em conta!

Desatando o barbicacho, "mode coçar a crôa da cabeça", tal a dor que sentia no pé "dismastriado", seu João divaga ao ouvir falar nesse moderno dia de liquidações. Aí lembra do tempo em que pegava o ônibus da Santa Cecília em Amadeu Furtado e ia ao centro de Fortaleza fazer compras. Tudo muito diferente de hoje, "só a carestia era a mesma".

- E vem tu me falar dessa blequefráidei, Antonha! Na minha época de moçote era remarcação. Produto em remarcação, no Romcy, podia correr e comprar! Só um tico!

"Frases sonoras são gritos da alma vazia"

Ô povo amundiçado! Zé Barriga D'água bebia com os colegas e faltou a "mincha" pra continuar na pôde. Um dos companheiros sugere que Zé, frescando, dê uma de pastor (Pastor Stevie BD), fazendo sermão para angariar fundos e pagar novas rodadas de cana. Trepado numa cadeira, ruma de bebim em volta, prega e canta na calçada do bar.

- Dá, meu irmão, dá! / Dá todo seu dinheiro pra nos ajudar / Pois quem não acredita e não contribui / Da Glória divina não usufrui / E no fogo do inferno padecerá...

E já agora se empolga no sermão, quase se "estabacando" da cadeira:

- E que nem 'Jesúise' disse, eu sou a ressurreição e a vida!!! É o fraco!

Um dos colegas, de tão séria a fala do Zé pastor, interrompe com pergunta pertinente:

- Ressurreição e vida de quem?

- Do meu pulmão e da minha garganta, da minha próstata e do meu colesterol ruim que tá alto, que é pra ver se ele abaixa!

Fonte: O POVO, de 1/12/2023. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.

Nenhum comentário:

 

Free Blog Counter
Poker Blog