quinta-feira, 3 de outubro de 2024

O PLP e o sonho de um Ceará desenvolvido

Por Pedro Jorge Ramos Vianna (*)

Tive a oportunidade conhecer o Plano de Longo Prazo do Governo do Estado do Ceará ao ler os três artigos, excelentes por sinal, do economista Celio Fernando B. de Melo, publicados nesse prestigioso Jornal.

Devo confessar que é uma tentativa corajosa a de implementar um plano de desenvolvimento para um período tão longo. O Plano projeta o sistema econômico do Estado para 2050. Vinte e seis anos de execução.

Neste artigo vou tecer alguns comentários sobre esse projeto.

Em princípio tenho as minhas dúvidas sobre seu sucesso. Tais dúvidas são alicerçadas pelos seguintes fatos:

Nenhum estado do Brasil pode fazer "planejamento" econômico sem contar com o apoio de Governo Federal. A dívida de São Paulo para com a União é um dado bastante evidente; o "planejamento" no Brasil nunca foi a tônica de qualquer Governo da República. No máximo tivemos "Planos de Metas", como no Governo Vargas e no Governo Juscelino Kubstchek; o Brasil é uma falsa federação, na qual cada estado quer estabelecer suas próprias metas, sem considerar o que prejudica ou não qualquer outro estado; o fato de alguns estados estarem "pensando" no longo prazo não significa que o governo brasileiro também esteja "pensando" assim.

Por outro lado, a existência de uma lei não significa que ela será cumprida. No Brasil a existência de inúmeras "leis mortas" é um fato.

Por outro lado, o PLP cearense estabelece metas que não necessariamente devem ser perseguidas, pois não têm muita importância.

Cito algumas:

Ser líder nacional no crescimento do PIB.

Ser o maior produtor de alimentos e bens de alto valor agregado do semiárido brasileiro

Consolidar o Ceará como o maior produtor e distribuidor nacional de energia de fontes limpas e renováveis.

Ter o melhor sistema de infraestruturas resilientes e de logística multimodal do país.

Há de se ter conhecimento que o "maior" em economia nem sempre é o "melhor". Uma economia que está em sua linha de "fronteira da produção" não tem mais condições de alcançar maiores níveis de satisfação coletiva.

O que deve interessar não é o "tamanho", mas se houve realmente o crescimento desejado de forma que a população, depois do Plano, esteja em situação melhor do que a anterior.

Também é importante ter em mente que para a elaboração de um plano deve haver um líder ou uma instituição líder que conduza a equipe de elaboração. O fato de o PLP atravessar vários governos não garante esta condição.

Devo dizer que a execução do PLP demandará muito trabalho e muita resiliência.

Mas espero que ao seu término, o PLP tenha conseguido o mais importante: que o Ceará esteja em situação socioeconômica bem melhor do que a atual e que a sua população futura possa auferir dessa melhoria.

(*) Economista e professor titular aposentado da UFC,

Fonte: O Povo, de 22/09/24. Opinião. p.18.

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