Por Gabriela Almeida, texto,
e Fernanda Barros, foto (Jornalistas, de O Povo)
OP- Foi durante esse período também que a sua relação com a Uece
começou né? Foi bacharel, professor, coordenador de projetos... em que momento disso
tudo veio a vontade, a intenção de ser reitor?
Hidelbrando - Tenho que ser sincero em
tudo que digo, eu nunca pensei em ser professor universitário. Quando eu fiz bacharelado
em geografia, a única coisa que eu pensei foi em ser bacharel em alguma empresa
estatal.
Quando comecei a graduação eu não me via professor,
por necessidade eu fui pra escola (ensinar), mas eu não queria ser professor, achava
nem que tinha talento pra ser professor. Eu queria ser geógrafo, no sentido mais
técnico da palavra.
Então a entrada na escola por necessidade acabou
desenvolvendo alguma coisa em mim que eu comecei a gostar. Eu passei meus quatro
anos da graduação sendo professor das escolas daqui. Comecei na escolinha comunitária,
mas passei pelo Tirantes...em vários colégios do Centro de Fortaleza, e passei a
gostar desse negócio.
Então eu me descubro professor por necessidade.
Eu estava fazendo especialização na UFC e tinha um sujeito chamado José Borzacchiello,
que é um geógrafo muito respeitado. Ele chegou lá e disse: "Todo mundo tem que se
inscrever no concurso público de geografia da Uece lá em Limoeiro".
Realmente uma parte grande da turma se inscreveu
e eu me inscrevi, não porque eu achasse que eu estava preparado para entrar na universidade,
eu me inscrevi porque o coordenador disse que eu tinha que me inscrever.
Por essas coisas também assim, das conspirações
do mundo, eu passei, fui o primeiro colocado. Fiquei super feliz, logicamente. A
partir daí, vi na docência um caminho que eu tinha que seguir. Ao entrar na universidade,
jamais passou na minha cabeça que além de ser professor ia ser reitor.
Eu achava a reitoria um negócio muito distante,
mas muito distante de qualquer possibilidade que eu tinha. Eu já estava muito feliz
em ser professor. Nunca tive um projeto de ser reitor quando eu comecei a minha
atividade. Tem gente que entra hoje na universidade e diz: "Eu quero ser reitor". Eu nunca tinha pensado
nisso.
Eu entro na universidade, com dois anos eu saio
para o mestrado em Recife. Queria basicamente só seguir minha carreira acadêmica.
Eu queria ser só professor, fazer uma carreira acadêmica legal, bacana. Quando eu
volto do mestrado, eu encontro a Fafidam (universidade em limoeiro) em disputa eleitoral.
Eu tinha passado só dois anos na Fafidam e sai
pro Recife, né? Mas eu tinha uma amizade, o pessoal gostava da gente e tal. Quando
eu cheguei, o pessoal (falou): "Ó, tu tem que ser candidato". "Mas meu irmão, tô chegando, eu não quero ser diretor de nada". Botaram pressão,
botaram pressão.
Eu disse: "Não, tudo bem. Se for
só pra gente fazer aqui só o movimento, eu vou". Aí fui. A primeira eleição que eu concorri
foi em 2000. Eu perdi por um voto. Tenho essa experiência lá que não foi vitoriosa,
eu dei graças a Deus não ter sido vitoriosa, porque eu não queria ser diretor de
verdade.
Eu vou para minhas atividades. Vou fazer projeto
de extensão, vou me relacionar com os movimentos de base, vou produzir paper,
estudo e tudo sobre a questão agrária. É a partir daí que eu vou exercer, de fato,
a atividade acadêmica. Era isso que eu queria fazer, as minhas aulas. Viver minha
vida profissional lá, desenvolvendo as coisas com o MST, com o movimento de barragem,
com os camponeses da região.
Quando deu em 2004, o pessoal disse: "Não, você vai ter que
ser candidato". Aí resolvi me candidatar para desgosto da minha esposa. Ela
não queria, ela achava que eu devia só seguir a carreira acadêmica, ter mais dedicação
para os filhos, para ela também. A contragosto dela, eu fui candidato.
Para meu azar, eu ganhei a eleição. Ganhei eleição
e, logicamente, a partir daí fui ter que dar conta da faculdade. E pelas sortes
também do mundo, essas coisas que conspiram, a gente conseguiu fazer um monte de
coisa que as pessoas até então não conseguiram fazer.
Por alguma razão que eu também desconheço, as
pessoas que não ajudavam a faculdade passaram a ajudar, eu consegui dinheiro para
construir mais lá dentro, modernizar a faculdade, construir mais dois blocos de
sala, terminar o auditório e aquela coisa ganhou uma fama, eu fiquei famoso dentro
da universidade como o cara que sabe fazer as coisas.
Na verdade era só isso, eu ia atrás e por alguma
razão dava certo. Eu consegui emenda parlamentar, consegui destravar processos que
estavam no governo. Consegui organizar a faculdade que era muito bagunçada. Consegui
botar todo mundo para trabalhar.
Então, todas essas coisas eu fiz lá naquele
micro espaço e o pessoal começou a achar que eu tinha talento para gerir as coisas.
Porque as coisas passaram a se organizar. O pessoal diz que eu sou virginiano, sou,
gosto muito de organização.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 7/07/25. Páginas Azuis. p.4-5.
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