Por Carlos Roberto Martins
Rodrigues Sobrinho (Doutor Cabeto) (*)
Um dia sonhei algo que me surpreendeu, era
um mundo diferente do que vivemos.
Não conseguia distinguir se era ontem ou
amanhã, era um mundo de valores, de integridade e harmonia.
Era uma sociedade justa e democrática
embasada em valores que garantiam um sistema judiciário imparcial e acessível,
a participação cidadã ativa na vida política, a liberdade de expressão e de
imprensa, além de governantes e instituições públicas compromissadas com
transparência e ética.
Em síntese, sabia-se a importância da
língua, da comunicação e do respeito.
Mas, o que mais me surpreendeu, foi
compreender como deu certo.
Alguém, digo assim porque não me recordo
quem era, me explicou sobre uma nova vacina.
Em tempo de certezas absolutas, de
intolerância, o imunizante sofreu inúmeros boicotes. Exceto para aqueles que se
engajaram na campanha e aceitaram. Assim plantaram uma semente, paulatinamente
uma nova versão do homem.
Mas, afinal o que seria esse imunizante, ou
mesmo, a resposta a sua aplicação?
Pasmem, uma vacina anticorrupção. Era
aplicada logo ao nascer, e para além de outros resultados, promovia anticorpos
ao narcisismo, a deslealdade, a prepotência e ao personalismo.
A longo prazo permitia entender tudo dentro
do seu tempo, conhecer e reconhecer o passado, construir um futuro com
coerência, sabedoria e sensibilidade. E noutro aspecto, entender porque está
errado, pois o certo não tem lado, é fruto da compreensão e não
da manipulação. O certo não sai na imprensa, não consta nas leis e nos
poderes constituídos. Prospera na solidariedade e no pensamento crítico.
Sobretudo, dar capacidade de romper,
coragem de dizer não com convicção e serenidade.
O certo não tem inimigo, tem futuro.
Sobrevoa o tempo, tem olhar transcendente, nada de panóptico das prisões de
Bentham, ou da sociedade moderna de Foucault. Há sim, escolas, fábricas,
cidades e sociedades livres, sem torres para vigiar ou punir.
Enfim, ao despertar me exasperei por
enxergar essa realidade anacrônica, sociedade do constrangimento.
E tive alívio ao refletir, ao compreender
que essa transformação somente acontecerá se rompermos os hábitos, quando
deixarmos de lado esse estigma do “homem cordial”, afeito a informalidade, com
dificuldade de separar o público do privado, onde as relações pessoais
interferem no comportamento em contextos formais, levando ao clientelismo e à
corrupção.
Enfim, tem que ser agora, sem medo, sem
medo e sem medo, com ternura, com firmeza, por dedicação às próximas gerações.
Tem que ser agora, em cada ato, em cada
gesto, com a intensidade da juventude e a perseverança de quem reflete, de quem
sabe fazer a hora.
(*) Médico. Professor da UFC.
Ex-Secretário Estadual de Saúde do Ceará.
Fonte:
Publicado In: O Povo, de 14/06/2025.
Opinião. p.19.
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