domingo, 13 de julho de 2025

HIDELBRANDO DOS SANTOS V: do balcão da mercearia para a cadeira de reitor

Por Gabriela Almeida, texto, e Fernanda Barros, foto (Jornalistas, de O Povo)

OP- O senhor sentiu algum tipo de preconceito ou resistência em razão disso quando assumiu?

Hidelbrando - Olha, são dois preconceitos. Talvez meio velados. Um é da minha origem institucional, sou um professor de Interior. Então, (havia) a questão se eu tinha competência ou não, mesmo tendo uma experiência exitosa lá.

Eu não vim apadrinhado, eu não tinha um padrinho, eu não tinha um corpo político de gente importante me apoiando, nunca tive na verdade, nem para ser diretor.

A outra (questão) foi as minhas origens. Sou de uma família que é uma família simples, não tenho nenhum sobrenome que diga que eu sou de uma estrutura hierárquica, de uma família muito poderosa, muito importante.

A gente sabe o que é que pesa sobre a gente, por ser negro também. Acham que a gente tem menos competência porque a pele da gente é negra, escura, né? Preta. Parece que a cor tira de você algum tipo de brilho. Todo preconceito em relação a mim eu sempre recebi como preconceito velado.

Eu nunca fui assim, diretamente vítima de uma ação racista que você tá ali no confronto direto. (Mas) As pessoas avaliavam (a minha) capacidade a partir dessas subjetividades aí, de materialidades também, já que a negritude é uma materialidade também, tá estampado aqui na nossa cara.

OP- E que legado deseja deixar na Uece?

Hidelbrando - Nesse novo mandato eu disse para a comunidade: "Olha, eu tenho aqui alguns desafios que a gente já avançou, mas para mim são desafios que eu vou me medir quando eu terminar o mandato".

O primeiro deles é a gente dar continuidade a algo que eu considero extraordinário que aconteceu no Ceará, que é a política de expansão e interiorização. Para mim o caminho da Universidade Estadual é se interiorizar e se internacionalizar.

Então, eu tenho a percepção e a compreensão que inclusive as possibilidades que o Ceará tem de saltos do ponto de vista econômico, social, passa por uma extensão ainda maior, não só da Uece, logicamente, mas de você ter uma rede ainda mais ampla de educação superior pública gratuita em todo o território brasileiro, seja pela Federal, seja pelo IFCE, seja pelas estaduais.

Porque a gente leva não somente a formação, a gente leva pesquisa, a gente leva desenvolvimento, a gente leva inovação e a gente leva extensão universitária.

Para mim, essa chegada no Interior é uma condição do nosso desenvolvimento, do nosso salto do ponto de vista qualitativo. O que eu quero garantir é que essa interiorização não pare e não tenha interrupção. E esse é o meu debate, a minha luta hoje nesse exato momento.

Nós abrimos de uma vez só nove cursos, três deles da área médica, dois de medicina e um de medicina veterinária. Três no interior do Estado. Pode ir para qualquer estado da federação, nesse momento, ninguém fez isso. Só o Ceará fez isso, isso em pleno governo Bolsonaro ainda. Eu quero terminar meu mandato com esse processo de expansão consolidado.

OP- E olhando para sua trajetória agora, o que o senhor considera que foi seu maior ato político?

Hidelbrando - Se eu tiver falando da minha experiência como gestor, eu acho que hoje a coisa mais marcante na minha história é de estar tocando o que eu considero a maior e a mais qualificada política de expansão e interiorização da Universidade Estadual do Ceará. Isso para mim é a coisa mais marcante.

Apreço pela arte

A sala de trabalho de Hidelbrando, onde ocorreu a entrevista, estava repleta de quadros, entre obras que ganhou e aquelas que trouxe para dar vida ao espaço. Logo depois que paramos de gravar, ele revelou ser um apreciador da arte e disse pensar até em fazer uma galeria na instituição.

Fé em São Francisco

Hidelbrando tem uma forte ligação com São Francisco. Além de ter falado reiteradamente sobre a mesma, o reitor deixou claro a devoção nas imagens do santo que guarda em sua sala.

Ligação com a universidade

O reitor mostrou que carrega a universidade no peito, literalmente. É que ao nos receber ele chegou com um broche em alusão aos 50 anos da instituição cravado na camisa. Logo ao fim da entrevista, no momento de despedida, entregou acessórios do tipo para a nossa equipe de reportagem.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 7/07/25. Páginas Azuis. p.4-5.

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