Fragmentos de tempos idos
Volto,
nesta coluna, a pinçar ecos do passado.
Cordeiro de Farias
Travei
contato com uma figura que, na ditadura, foi ministro do Interior de Castello
Branco, o Marechal Cordeiro de Farias, um dos líderes da Coluna Prestes. Foi a
Recife como ministro do Interior, onde estava localizada a SUDENE, sob sua
alçada. Oportunidade em que o conheci, iniciante em minha carreira jornalística
no Jornal do Brasil. Acompanhei a comitiva, que saiu de Recife para a fronteira
do Maranhão com o Piauí, onde seria construída a barragem da Boa Esperança. O
evento constou da explosão de uma rocha para desvio de águas do Rio Parnaíba.
Os jornalistas pregaram um Douglas DC-3, atrás do avião do ministro e outras
autoridades. Nas margens do rio, receoso, aproximei-me de Cordeiro de Farias,
logo após a explosão da pedra. Lembrei o episódio. "Luís Gomes? Na
fronteira com a Paraíba? Ah, sim, me lembro". Ele recordava-se da
cidade/região, não do episódio. Riu muito. A Coluna Prestes caminhou 647 dias,
percorrendo cerca de 24 mil quilômetros (média de 38 km/dia), utilizando mais
de 100.000 cavalos e consumindo mais de 30.000 reses na alimentação da tropa.
Morreram 600 soldados e 70 oficiais. Dispararam cerca de 350.000 tiros e
travaram 53 combates. Saiu do Nordeste, atravessou todo o país e após o
centro-oeste, Luís Carlos Prestes, em 1927, entrou na Bolívia e, a seguir, foi
para a Argentina. A divergência ideológica, em 1930, separou os companheiros.
Getúlio Vargas
Getúlio
Vargas sempre conservou intenções continuístas. Um dia, foram procurá-lo para
saber se isso era verdade. E ele:
- Não,
meu candidato é o Eurico (marechal Eurico Gaspar Dutra); mas se houver
oportunidade, eu mudo uma letra: Eu Fico.
(Relato
da historiadora Isabel Lustosa)
Jânio Quadros
JQ
exercia autoridade com muita competência. Sabia exercê-la. Certa feita, na
subida da rua Bela Cintra, em São Paulo, numa sexta-feira, de carros parados
nos Jardins, começou uma zoeira infernal. Buzinadas prolongadas. Eu mesmo
buzinava. Até o momento em que os motoristas viram sair de um carro preto o
prefeito Jânio, que fazia "incertas" e visitas de surpresa aos
ambientes. Mandava multar os donos de lojas, com calçadas sujas. Vi que o
motorista do então prefeito Jânio anotava placas de todos os carros que
buzinavam. O silêncio foi se refazendo, à medida que os motoristas descobriam
quem era a pessoa estranha que ordenava as multas. Jânio impunha respeito.
Bebericava bem
Apreciava
a bebida. Bebia de tudo, mas nos últimos anos de vida, contentava-se em sorver
garrafas de vinho do porto. Quando disputou o governo do Estado contra Ademar
de Barros, na eleição de outubro de 1954, Ademar contratou alguém para pegar
Jânio na pergunta capciosa: "por que o senhor bebe tanto?" De pronto,
Jânio deu o troco: "bebo porque é líquido. Se fosse sólido,
comê-lo-ia". O entrevistador, sem graça, saiu de fininho. Jânio fazia gama
com suas próclises, mesóclises e ênclises. Foi professor de português. Os
despachos de Jânio constituem um capítulo à parte no folclore político que
construiu. O professor Nelson Valente, quem mais conhece a história de JQ, tem
um grande repertório de casos e "causos". E livros. As historinhas
são hilárias. De uma feita, respondendo a uma senhora que interferia em favor
das sociedades protetoras dos animais, sugerindo criar um setor de defesa dos
irracionais, o presidente respondeu: "minha amiga, seu apelo em favor dos
irracionais encontra-se às voltas com terríveis problemas de amparo e proteção
a outra raça tão digna, entre nós, de cuidado, a dos racionais".
Fonte: Gaudêncio Torquato (GT Marketing Comunicação).
https://www.migalhas.com.br/coluna/porandubas-politicas/409594/porandubas-n-852

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