sexta-feira, 28 de novembro de 2025

FOLCLORE POLÍTICO: Porandubas 852a

Fragmentos de tempos idos

Volto, nesta coluna, a pinçar ecos do passado.

Cordeiro de Farias

Travei contato com uma figura que, na ditadura, foi ministro do Interior de Castello Branco, o Marechal Cordeiro de Farias, um dos líderes da Coluna Prestes. Foi a Recife como ministro do Interior, onde estava localizada a SUDENE, sob sua alçada. Oportunidade em que o conheci, iniciante em minha carreira jornalística no Jornal do Brasil. Acompanhei a comitiva, que saiu de Recife para a fronteira do Maranhão com o Piauí, onde seria construída a barragem da Boa Esperança. O evento constou da explosão de uma rocha para desvio de águas do Rio Parnaíba. Os jornalistas pregaram um Douglas DC-3, atrás do avião do ministro e outras autoridades. Nas margens do rio, receoso, aproximei-me de Cordeiro de Farias, logo após a explosão da pedra. Lembrei o episódio. "Luís Gomes? Na fronteira com a Paraíba? Ah, sim, me lembro". Ele recordava-se da cidade/região, não do episódio. Riu muito. A Coluna Prestes caminhou 647 dias, percorrendo cerca de 24 mil quilômetros (média de 38 km/dia), utilizando mais de 100.000 cavalos e consumindo mais de 30.000 reses na alimentação da tropa. Morreram 600 soldados e 70 oficiais. Dispararam cerca de 350.000 tiros e travaram 53 combates. Saiu do Nordeste, atravessou todo o país e após o centro-oeste, Luís Carlos Prestes, em 1927, entrou na Bolívia e, a seguir, foi para a Argentina. A divergência ideológica, em 1930, separou os companheiros.

Getúlio Vargas

Getúlio Vargas sempre conservou intenções continuístas. Um dia, foram procurá-lo para saber se isso era verdade. E ele:

- Não, meu candidato é o Eurico (marechal Eurico Gaspar Dutra); mas se houver oportunidade, eu mudo uma letra: Eu Fico.

(Relato da historiadora Isabel Lustosa)

Jânio Quadros

JQ exercia autoridade com muita competência. Sabia exercê-la. Certa feita, na subida da rua Bela Cintra, em São Paulo, numa sexta-feira, de carros parados nos Jardins, começou uma zoeira infernal. Buzinadas prolongadas. Eu mesmo buzinava. Até o momento em que os motoristas viram sair de um carro preto o prefeito Jânio, que fazia "incertas" e visitas de surpresa aos ambientes. Mandava multar os donos de lojas, com calçadas sujas. Vi que o motorista do então prefeito Jânio anotava placas de todos os carros que buzinavam. O silêncio foi se refazendo, à medida que os motoristas descobriam quem era a pessoa estranha que ordenava as multas. Jânio impunha respeito.

Bebericava bem

Apreciava a bebida. Bebia de tudo, mas nos últimos anos de vida, contentava-se em sorver garrafas de vinho do porto. Quando disputou o governo do Estado contra Ademar de Barros, na eleição de outubro de 1954, Ademar contratou alguém para pegar Jânio na pergunta capciosa: "por que o senhor bebe tanto?" De pronto, Jânio deu o troco: "bebo porque é líquido. Se fosse sólido, comê-lo-ia". O entrevistador, sem graça, saiu de fininho. Jânio fazia gama com suas próclises, mesóclises e ênclises. Foi professor de português. Os despachos de Jânio constituem um capítulo à parte no folclore político que construiu. O professor Nelson Valente, quem mais conhece a história de JQ, tem um grande repertório de casos e "causos". E livros. As historinhas são hilárias. De uma feita, respondendo a uma senhora que interferia em favor das sociedades protetoras dos animais, sugerindo criar um setor de defesa dos irracionais, o presidente respondeu: "minha amiga, seu apelo em favor dos irracionais encontra-se às voltas com terríveis problemas de amparo e proteção a outra raça tão digna, entre nós, de cuidado, a dos racionais".

Fonte: Gaudêncio Torquato (GT Marketing Comunicação).

https://www.migalhas.com.br/coluna/porandubas-politicas/409594/porandubas-n-852


Nenhum comentário:

 

Free Blog Counter
Poker Blog