Por José Nelson Bessa Maia (*)
O Prémio Nobel,
instituído por testamento do engenheiro sueco Alfred Nobel falecido em 1896,
deveria ser atribuído anualmente à pessoa ou organização que "fez o maior
ou o melhor trabalho pela fraternidade entre as nações, pela abolição ou
redução de exércitos permanentes e pelo apoio a congressos de paz.". No
entanto, desde o início, a interpretação dos seus critérios esteve nas mãos de
um obscuro Comitê Norueguês, e as suas decisões em certos casos têm gerado
muita controvérsia.
Esta história
mostra que o padrão de paz de Oslo nunca teve uma definição clara e que as
atuais interpretações dos esforços pela paz despojaram o Prêmio do seu significado
original. De Aung San Suu Kyi (1991) a Barack Obama (2003), e agora a atual
laureada a venezuelana María Corina Machado (2025), a lista de escolhas revela
que os critérios de seleção se tornaram cada vez mais políticos e movidos pelo
jogo do poder. Estas seleções têm legitimado figuras polêmicas em termos de sua
real contribuição para a paz mundial.
Um exemplo
absurdo do Nobel da Paz foi do ex-secretário de Estado dos EUA, Henry Kissinger
(1973), cuja escolha causou indignação, uma vez que ele foi responsável por
prolongar a Guerra do Vietnã e pela derrubada do governo no Chile.
Este caso é um
exemplo de "falso pacifismo", que minou a credibilidade do Prêmio. A
escolha do ex-presidente dos EUA Barack Obama (2009) é mais um caso esdrúxulo,
pois seu governo pôs em prática o maior número de operações militares desde
George W. Bush, provando que sua retórica pacífica e suas ações no mundo real
estavam divergentes.
Até o nome de
Donald Trump foi sugerido como candidato ao Prêmio Nobel da Paz, uma proposta
surreal. Num mundo onde Mahatma Gandhi, que foi o emblema da paz e da não
violência, nunca recebeu o Prêmio Nobel da Paz, chega-se a um ponto em que os
contumazes incendiários se retratam como ícones da paz e escondem suas
atrocidades sob a sombra do Prêmio.
É lamentável que
interesses escusos, pressões de governos e cálculos estratégicos ofusquem
amiúde as decisões do Comitê Nobel, retirando-lhe seriedade e o pouco de
credibilidade que ainda mantêm.
Por fim, com
relação a Maria Corina Machado ao Nobel da Paz sua escolha trata-se tão somente
da intenção de brindá-la em relação ao Governo de Nicolás Maduro e preparar seu
nome para eventual substituição em caso de uma intervenção americana na
Venezuela.
As suas posições
políticas extremistas e em prol de intervenções dos EUA em seu próprio país,
ainda que trasvestidas de defesa da democracia, em nada contribuíram para a paz
na América Latina, levando, ao contrário, ao confronto político na região, com
risco de guerra civil, interferência estrangeira em assuntos internos e
violações à soberania da Venezuela.
(*)
Ex-secretário de Assuntos Internacionais do
Governo do Ceará, mestre em Economia e doutor em Relações Internacionais pela
Universidade de Brasília (UnB) e, atualmente, consultor internacional.
Fonte: O Povo, de 26/10/25. Opinião. p.24.

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